O apoio à crença de que “bandido bom é bandido morto” varia de 37% a 57% entre os brasileiros, dependendo da realidade, período e região do País (Pesquisa realizada pelo grupo de Direito criminal – CRIMLAB).
Esse pensamento, de todo modo, não se originou sem motivo, e, de certa forma, existem elementos que tentam justificar essa reação, sendo eles: a super exposição de conteúdos violentos pela mídia (muitas vezes aumentados), a transferência de responsabilidade da execução aos policiais, uma experiência pessoal ou indireta, a insegurança, entre outros motivos que, cada vez mais, crescem no meio da nossa sociedade.
Toda essa revolta que carregamos a muito tempo possui uma ligação direta com a necessidade de retribuição do ser humano. Isso tem gerado um retributivismo extremamente visível e perigoso, que pode ser observado em casos de furtos, roubos e outros crimes que existem em nossa sociedade desde os primórdios; tais delitos suscitam respostas diferentes de cada indivíduo, que vão desde uma postagem expressiva nas redes sociais, até a necessidade de “resolver” o problema com as próprias mãos.
Dito isto, fica claro o pensamento arcaico de compensação, ou punição, quando se decide realizá-lo por si só, sendo um de seus berços a Lei do Talião, no século XVIII a.C, a qual sustenta a ideia de retribuição, “olho por olho, dente por dente”, carregando um comportamento animalesco, baseada apenas em valores morais, ignorando a premissa de uma justiça humanitária e democrática.
Desta forma, enquanto a ideia de justiça é confundida com uma retribuição brutal, fantasiada de um ato heroico, e aplaudida por mais da metade da sociedade, é conveniente começar a pensar na possível falência da humanidade.
É fundamental que cada leitor, ou qualquer um que esteja disposto a uma evolução pessoal e quiser construir um pensamento crítico sobre esse assunto tão complexo e muito estudado por curiosos e profissionais do Direito, entenda que, o fato de deixar de apoiar a justiça com as próprias mãos, ou até mesmo a retribuição na mesma espécie, não significa apoiar a criminalidade, ou defender quem cometeu o ato delituoso, ou ser a favor da bandidagem e do “vagabundo”; mas, sim, significa apoiar o crescimento de uma sociedade com fundamento crítico, a volta da humanidade, e até mesmo evitar injustiças que a própria mídia muitas vezes trás, através de aumentos desnecessários carregados de sensacionalismo.
Para quem se diz cristão é inadmissível fazer justiça com as próprias mãos. Ora, se não me falha a memória, Jesus jantou na casa de Zaqueu que era um ladrão, um grande ladrão, pois se assim não o fosse não teria ressarcido quatro vezes mais a quem ele tinha roubado.
Ora, “bandido bom é bandido morto”, mas eu me pergunto, quais bandidos? Os que roubam galinha, celular, secretaria, mercearia? E os chamados “bandidos de colarinho branco”? No congresso, no senado, nas Alvoradas da vida? E os milionários, bilionários, que posam de paladinos da justiça e da moral e que devem milhões aos cofres públicos?
Meu caro leitor, já há algum tempo venho relutando para não admitir que infelizmente a humanidade faliu. Se nós não revertemos a ideia de pátria armada, de fazer justiça com as próprias mãos, de continuarmos vivendo a lei de talião, sem dúvida seremos sentenciados ao que já dizia Mahatma Gandhi: “olho por olho, dente por dente e um dia terminaremos cegos e sem dentes”.
Abraços,
Frei Edmilson.
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