Foram quarenta anos caminhando pelo deserto na companhia de Deus. Durante o dia uma coluna de nuvem os guiava pelo caminho, já à noite uma coluna de fogo para os iluminar. Dia e noite Deus estava com eles, todos eles tinham um destino geográfico e espiritual para alcançar os territórios da promessa Divina, da aliança entre Deus e seu povo. Não apenas isso, os Israelitas precisavam aprender a fazer escolhas, discernir entre o bem e o mal. Voz de Deus e voz de homem. Oportunidades de prosperar e ciladas dos inimigos. Parece improvável que diante de tantas provas de amor e proteção Divinos, sinais e maravilhas, os israelitas ainda optassem por caminhos errados, escolhas desastrosas. Porém, acontecia, e por muitas vezes as escolhas erradas do povo geraram más consequências no individual e no coletivo. Temos a liberdade de escolher, o livre-arbítrio é uma capacidade que nos diferencia do restante das espécies.
Escolher é algo possível para quem faz uso da razão, do pensamento. Homens pensam e escolhem o tempo inteiro, assim é que se constrói ou se destrói a vida. No Éden a árvore das escolhas tinha frutos do bem e do mal. Uma árvore não pode ter dois tipos de frutos, mas aquela árvore era diferente porque representava escolhas e consequências, discernimento, compreensão entre justiça e pecado, vida e morte. A árvore do bem e do mal é uma perfeita simbologia de nossas escolhas. Escolher é separar um entre muitos, e para cada um que se separa segue-se um conjunto de outros.
O filósofo Kant disse que nossas escolhas não apenas definem o que somos, mas o que os outros podem vir a ser. Nossas escolhas formam uma reação em cadeia. O mundo vive essa reação onde a soma das escolhas dos habitantes do planeta terra o tornam um lugar melhor ou pior de se morar. É óbvio que a vida é feita de escolhas, as fazemos naturalmente, não é mesmo? O problema que persiste em nós, é o mesmo que persistiu com os israelitas no deserto há muito mais de três mil anos. Fazemos escolhas, mas estamos prontos para lidar com as consequências do que escolhemos?
Há coisas que desejamos demasiadamente, colocamos nossa força e coração para alcançar, mas sequer medimos os resultados: “E Ele lhes cumpriu o seu desejo, mas enviou magreza (definhar) às suas almas” (SI 106,15). A magreza chegou quando Adão escolheu ouvir Eva, quando esta escolheu ser seduzida pela serpente. Chegou quando os Israelitas escolheram um deus mudo e cego em forma de bezerro, em detrimento de um Deus vivo, amoroso e poderoso que lhes guiava pelo caminho. A magreza chegou para Davi, homem segundo o coração de Deus, que escolheu o pecado do adultério, não resistindo a tentação e encanto de Betesda. A magreza chegou para Sansão quando deu ouvidos a Dalila e a magreza chega sempre quando escolhemos o que não agrada a Deus.
Às vezes culpamos a Deus pelo sofrimento que estamos atravessando, quando na verdade, o que estamos vivendo nada mais é do que as consequências de nossas escolhas: “De que se queixa o homem vivente? Queixe-se cada um de seus próprios pecados” (Lm 3,39).
Os israelitas murmuravam muito, queixavam-se de Deus, quando na verdade eles não sabiam fazer escolhas porque eram rebeldes a voz Divina.
Ainda assim, Deus estava ali, dia e noite envolvendo-os com Sua misericórdia e exortando-os a mudarem de direção para viverem melhor e mais felizes.
Você é inteiramente livre para fazer suas escolhas, mas nunca se esqueça que você é prisioneiro das consequências.
Abraços,
Frei Edmilson.
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