Nos dias de hoje, não vemos a existência de grandes profetas!
A igreja católica perdeu um legado rico de grandes bispos que ao decorrer de sua missão viveram e pregaram como verdadeiros profetas. Esses não fizeram, ou deixaram que se fizesse discípulos, como o profeta Dom Cláudio Hummes, o último profeta, que partiu a poucos dias, mas, sobre esse assunto me permitam abordar no próximo artigo.
Foi com essas palavras que eu dei uma pausa na minha última reflexão intitulada “JÁ NÃO TEMOS MAIS PROFETAS”. Quero, nesta segunda e última parte, não deixar de fazer memória a grandes profetas dentro da nossa Igreja católica que partiram e, hoje sinto que vivemos um vazio de profetismo dentro da nossa igreja.
O que nos ensinaram os profetas Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Helder Câmara, Dom Tomás Balduíno, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Luciano Mendes de Almeida, Dom Adriano Hypólito, Dom Cláudio Hummes e outros que me fogem da memória no momento? Um bispo, que seja realmente um profeta continua sendo algo difícil na igreja, principalmente nos nossos dias. Difícil porque a missão profética é árdua. Na igreja, os profetas são perseguidos, isso porque não são compreendidos e nem aceitos, “Um profeta só é desprezado em sua pátria, em sua parentela e em sua casa” (Mc 6, 4).
Partindo do pressuposto de que os bispos são sucessores dos apóstolos de Jesus, logo, devem ser como eles, pobres, pastores e corajosos diante das injustiças.
O que significa ser pastor? Segundo Jesus, no evangelho de São João, pastor é aquele que conhece as ovelhas e é capaz de dar a vida por elas. Desta forma, para conhecer é necessário se aproximar e, para se aproximar é necessário tornar-se próximo. Neste sentido os bispos profetas que já partiram mencionados acima foram o bom samaritano, pois estavam sempre juntos das pessoas caídas à beira do caminho.
Dar a vida pelas ovelhas! É verdade que os profetas mencionados que já partiram não foram mártires ao ponto de serem assassinados, como foi Dom Oscar Romero, em El Salvador, mas o foram na vida que levaram; foram mártires na causa da justiça do reino, da perseguição e da incompreensão por parte até, ou principalmente da própria hierarquia da Igreja católica.
Os profetas que já partiram citados aqui denunciaram as injustiças que ceifaram a vida de muitas pessoas. Ainda, estiveram contra o regime militar na década de 60 no Brasil, o qual ocorreram inúmeros crimes, mas defenderam os indefesos, foram voz dos que procuravam por socorro, essas eram atitudes firmes e corajosas desses profetas.
Os pobres, excluídos e as demais pessoas de boa vontade ficavam admirados com a coragem deles. Óbvio que, tinha e tem os que criticam rotulando-os de “bispos comunistas, de esquerda, vermelhos…”, mas são “críticos” ou desocupados, onde se você os indagar um pouco mais, não saberão, de fato, o que é comunismo, esquerda e assim por diante. Nesses momentos, lembro da passagem de quando Jesus foi acusado pelos mestres das leis e fariseus de que, Jesus, expulsava os demônios em nome de belzebu, e quem era belzebu? O príncipe dos demônios, então Jesus diz a turma de plantão “gente! nem o grupo dos demônios sobrevivem se não permanecerem unidos!”
Eu, particularmente, tenho saudade desses profetas que já partiram, lembro que quando a conferência dos bispos do Brasil (CNBB) se reunia anualmente em Itaici (SP), o evento era noticiado nos principais telejornais, sempre aguardava-se com certa expectativa o documento final, os pronunciamentos de alguns bispos, pois sempre vinha uma palavra profética de anúncio de denúncia, com radicalidade e caridade.
Passou o tempo e hoje, se formos olhar cuidadosamente, nem os próprios fiéis católicos sabem ou souberam que os bispos estavam reunidos em sua assembleia anual, agora imagine se a imprensa fez alguma alusão…
Vivemos tempos de aridez profética em nossa igreja católica, em ano de eleições a igreja se manifesta de forma muito tímida. Nosso argumento é pífio: “nossas celebrações litúrgicas não podem falar de política, pois os fiéis não vieram à igreja para ouvirem tal assunto”. Muito bem posso até concordar, mas os nossos salões paroquiais, salas, às vezes cheio de teia de aranha? Não podia ser espaço para homens e mulheres de boa vontade promoverem discussões sadias sem fanatismos, intolerância e a partidárias? Enquanto a igreja católica opta por sua timidez, as igrejas evangélicas em sua maioria deitam e rolam com seus “altares” verdadeiros palanques, com seus conchavos, cambalachos, barganhas, não pelo bem do povo, mas pelo bem da igreja.
Seria muito faltoso da minha parte encerrar essa reflexão sem mencionar a pessoa marcante e viva do profeta Papa Francisco, que também é muito criticado e incompreendido dentro da nossa igreja católica, mas assim o foram Isaías, Jeremias, Elias, João Batista. Mas é inegável, Francisco é um profeta dos nossos, honra o nome que escolheu para seu pontificado. É incompreendido? É criticado? Mas, “Bem aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o Reino dos céus” … “Bem aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, pois é grande nos céus a vossa recompensa”. (Mt 5, 10-12)
Abraços,
Frei Edmilson.
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