(14) 99761-1536

Acompanhe também:

Colunistas

Home > Notícias > Colunas > Estava pressagiado: Tonico Lista seria morto
Colunas

Estava pressagiado: Tonico Lista seria morto

*Esclarecimentos: não estamos em defesa do coronel Antonio Evangelista da Silva, nem acusação; apenas interessa-nos o resgate histórico santa-cruzense, aqui com alguns detalhes documentados, inéditos. 

O casal Celso e Junko Sato Prado

 

Ano de 1920, período obscuro na história santa-cruzense, Antonio Evangelista da Silva, o famanaz ‘Coronel Tonico Lista’, ainda se sustentava como o prestigioso chefe político, porém, já não pontificava soberano desde o final de 1918, quando o advogado, historiador e político brasileiro modernizante, Washington Luiz Pereira de Souza, movimentava-se na conquista do apoio de dissidentes dentro do próprio Partido Republicano Paulista, o PRP, para quebrar a hegemonia dos velhos desgastados coronéis interioranos, e, assim, impor o seu nome à Comissão Central na convenção de 11 de setembro de 1919, como o indicado à Presidência do Estado de São Paulo, nas eleições de 1920.  

Em Santa Cruz do Rio Pardo já se sabia ‘oficializado’, desde 23 de agosto de 1919, que Washington Luis não tinha mais adversários para contestá-lo na convenção perrepista para a presidência paulista: 

— “O sr. presidente da camara municipal expedio, sabbado passado [23/08/1919], telegramas de congratulação pela escolha dos exmos. dr. Wasgington Luiz Pereira de Souza e senador Vergilio Rodrigues Alves, respectivamente candidatos á presidência e vice-presidencia do Estado, á Comissão Directora do Partido Republicano Paulista, a s. exas. acima nomeados, ao <Correio Paulistano> e ao exmo. Presidente do Estado, nos seguintes termos: A Camara Municipal desta cidade, em sessão extraordinária hoje realizada, resolveu manifestar á Commissão Directora do Partido Republicano Paulista o seu voto de applauso e inteira solidariedade, pela indicação que acaba de fazer, apresentando os nomes dos illustres homens de governo sr. dr, Washington Luis Pereira de Souza e coronel Vergilio Rodrigues Alves respectivamente para os elevados cargos de Presidente e Vice-presidente do Estado, e nos termos da representação ora apresentada, resolve mais que se dê sciencia deste seu acto aos dr. Altino Arantes, Washington Luis e coronel Vergilio R. Alves.” – Publicação ‘O Contemporaneo’,

edição de 28/08/1919: 1.

— Sem concorrência de opositores – não existia nenhum outro partido político que rivalizasse o PRP, o candidato, então indicado pela Comissão Central, era o virtualmente eleito, sendo as urnas para o executivo estadual apenas a medição da força coronelística, de cada região, em angariar o maior número de votos dos eleitores ao escolhido; já no legislativo e nas eleições municipais, aí o ‘pau quebrava’, mas, por ora, não é o caso de ‘quebrar’ aqui.

 

Jornal ‘O Combate’ – SP, edição de 19 de março de 1921: 1.

Atento aos acontecimentos, o coronel Lista não ignorava os movimentos de Washington Luis desde o final de 1918 – quando ainda prefeito da capital – para o seu objetivo presidencialista estadual; também Lista não desconhecia o que lhe significava a vitória de Washington, nem lhe fizera segredo o seu padrinho político Ataliba Leonel, amigo confidencial do futuro presidente estadual, que o juiz Francisco Cardoso Ribeiro, desafeto de Lista, seria o próximo Secretário Estadual da Justiça e Segurança Pública, com mão forte para intervir em Santa Cruz do Rio Pardo, no intuito da deposição do coronel do mando político, e nada mais havia que pudesse ser feito.

— Ataliba viajou a Santa Cruz do Rio Pardo para um encontro com Lista, missão política eleitoral, acontecido aos 22 de abril de 1919 (Doc. 061 – Correio Paulistano, 28/04/1919: 4), com a obviedade que o chefe político maior da Média Sorocabana apoiaria o amigo Washington Luiz para a presidência de São Paulo, e, daí, a certeza daquilo que o santa-cruzense sabia e temia: seria defestrado do poder. 

Primeira providência de Lista, no final de 1918 e início de 1919, foi transferir a esposa e filhos para a capital paulista (O Contemporaneo, 12/06/1919: 2, revelação, quando em visita a Santa Cruz, hospedados em casa de amigos), enquanto ele próprio, o coronel, permaneceria no lugar como prefeito, mandato a concluir e, depois, já negociada sua permanência no cargo e liderança política local para o triênio 1920/1923, período para enfrentar os tantos processos, preparar seu substituto e se desfazer, gradualmente, dos seus principais bens, para, aí, depois sim, a retirada pessoal, se lhe houvesse tempo.

Dez anos antes

Francisco Cardoso Ribeiro, juiz de direito na comarca de Santa Cruz do Rio Pardo de 1905 a 1909, a ignorar recomendações para que usasse bom senso e cautelas, no trato com o coronel Tonico Lista e seus mais próximos, fez ouvidos moucos e meteu em grades, com sentença de dois anos, um militar designado delegado de polícia, tido do círculo íntimo de amizades do coronel. 

A não bastar, o juiz resolveu, ainda, afrontar o coronel com a nomeação de Fernando Eugenio Martins Ribeiro, para o cargo de delegado de polícia, ato obtido diretamente com o amigo Washington Luiz Pereira de Souza, então Secretário da Justiça e Segurança Pública do Estado de São Paulo (1906/1912).

—Eugenio Martins era inimigo declarado de Lista desde os tempos de mando do dr. Francisco de Paula de Abreu Sodré, e, em torno da sua nomeação atritaram-se o juiz e o coronel, recomendando o chefe político que o magistrado atentasse tão somente às leis pois da política cuidava ele.

Tonico Lista, então, reivindicou junto ao secretário Washington Luis que tornasse sem efeito a nomeação do delegado, pedido ignorado, o delegado seria mantido no cargo e o juiz a divulgar a todos o tropeço do coronel, que, num dos seus costumeiros assomos de ira, determinou que o juiz deixasse a comarca, num curto prazo, ignorado pelo magistrado, a avocar ‘costa-quente’. 

Dias depois: 

— “Uma feita ia uma grande diligencia judiciária matto adentro, quando numa emboscada, indo ao lado do dr. Cardoso Ribeiro, foi o dr. Fernando Eugenio attingido por uma descarga. Bom entendedor, o dr. Cardoso Ribeiro tratou de abandonar a comarca (…).” 

O juiz deixou Santa Cruz do Rio Pardo, na madrugada seguinte, às ocultas, numa carroça-baú de entrega de pães, conduzida por João Dalmati, até a gare ferroviária de Bernardino de Campos, onde aguardaria a família vinda de Santa Cruz do Rio Pardo, para juntos seguirem viagem até a capital do estado; os bens móveis seriam embarcados depois. João Dalmati, ele mesmo opositor a Lista, jamais fez segredos que o humilhado juiz jurava vingança, contra o verdugo coronel.

A expulsão do juiz causou indignação em todo o judiciário paulista, uma afronta à Secretaria da Justiça e Segurança Pública além do total desprezo pelo titular da pasta, dr. Washington Luis, cuja autoridade então estraçalhada dentro de um governo estadual inoperante, incapaz de deter o coronel Tonico Lista em sua zona de mandonismo.

Eleito Presidente do Estado de São Paulo, em 1920, Washington Luis cumpriu promessa feita onze anos antes ao amigo e juiz de direito, Francisco Cardoso Ribeiro, anunciando-o Secretário da Justiça e Segurança Pública, com permissão do uso de plenos poderes para, afora as atribuições legais, transformar a pasta num instrumento de vingança, podendo o secretário numa roupagem de legalidade, implicar, prender e destituir o coronel Antonio Evangelista da Silva, do mando político na comarca de Santa Cruz do Rio Pardo.

Antes mesmo da posse, Cardoso Ribeiro foi o principal nome a integrar uma comissão, por formalidade, encarregada de contatar dissidentes perrepistas em cada município, onde a necessidade, para organizar o Partido Municipal ou Municipalista, como agremiação opositora ao PRP, ou seja, na prática, dois partidos locais entre si adversos, no entanto, no âmbito estadual, ambos sob comando único da Comissão Diretora do Partido Republicano Paulista.

O Partido Municipal não foi exclusividade para Santa Cruz do Rio Pardo; outros municípios paulistas aderiram à onda para a formação partidária surgida da defecção perrepista; mas, na comarca santa-cruzense, o objetivo principal da nova agremiação era unir os adversários de Lista visando o seu enfraquecimento e deposição do mando político, e, caso a impossibilidade de condenação e cadeia, não descartada a supressão física.

— “O dr. Cardoso Ribeiro, no intuito de ‘depor’, agora, o sr. Antonio Evangelista da Silva, deste ‘truc’, muito de político sertanejo, dando mão forte aos inimigos do sr. Antonio Evangelista da Silva e dahi a creação de um partido ‘opposicionista’ local, capaz de escalar o poder. 

(…). 

O partido creado em Santa Cruz do Rio Pardo, não é de – opposição – mas sim ultra-governista. 

— Jornal ‘O Combate’ – SP, edição de 19 de março de 1921: 1. 

E agora?

Bem, agora outra inédita ‘história que a história não conta’ com todos os detalhes elucubrados pelo juiz e seus ‘cupinchas’ para a morte de Lista. No próximo artigo.

-o-

Acesse nosso endereço/índice e escolha a matéria de seu interesse:  https://historiasantacruzdoriopardo.blogspot.com 

 

VOCÊ TAMBÉM PODE GOSTAR DESTAS NOTÍCIAS:

COMENTÁRIOS:

Nenhum comentário foi feito, seja o primeiro!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *