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Leônidas Camarinha – deputado estadual e empresário

Enquanto o prosseguimento da crise política, Leônidas Camarinha fundou a ‘Rádio Difusora Santa Cruz’ (ZYQ-8), concessão em 1946, em sociedade com o comerciante João Queiroz Junior e o bancário José Antonio Ramos, para desta maneira concentrar em suas mãos a imprensa santa-cruzense, escrita e falada, e dela fazer uso político, aprontando-se para disputar vaga na assembleia legislativa e eleger-se deputado estadual, com 4.262 votos, para a legislatura 1947/1950. 

Como parlamentar envolveu-se na eleição municipal de 1947, para fazer prefeito eleito o indicado Lúcio Casanova Neto, além de maioria na câmara.

Camarinha não teve atuação parlamentar destacada, em nenhum de seus mandatos, apenas apresentando projetos de impacto popular, muito mais para Santa Cruz e região, como destinações de verbas para obras assistenciais, aos esportes e à construção do hospital, a ‘Nova Santa Casa’, que já se dizia ‘Hospital Maternidade’, de caráter privado embora construído e equipado com dinheiro público na quase totalidade.

Inteligente, manteve seu nome em muitas edições do Jornal de Notícias, publicitado na coluna ‘Flagrantes da Assembleia’, de humor político satírico; e se reelegeu deputado, mandato de 1952/1955, pelo Partido Social Progressista – PSP, com 5.848 votos.

O PSP foi renomeado em 1947, para o ‘Partido Republicano Progressista – PRP’, de Adhemar de Barros, que não deve ser confundido com o extinto ‘Partido Republicano Paulista – PRP”, embora raízes os vinculem.

Outra eleição estadual, legislatura 1956/1959, e Leônidas novamente deputado eleito com 6.590 votos, sendo que nessa disputa teve a rivalidade municipal de José Osíris Piedade, o Biju, lançado candidato pela UDN – União Democrática Nacional, que não ultrapassou os 600 votos.

Na legislatura, de 1956/1959, o Camarinha cometeria dois erros políticos em prejuízo a Santa Cruz do Rio Pardo, primeiro ao consentir e atuar favoravelmente para a redução territorial do município, em favor da localidade de Ourinhos, com a perda da Usina São Luiz e, consequentemente, arrecadação; noutro desacerto, negou apoio político regional ao então candidato para governo paulista, Jânio da Silva Quadros, afinando-se com Dr. Adhemar de Barros, uma aposta que não deu certo.

O salário-mínimo, na época, era regional, sendo o de Santa Cruz superior ao de Ourinhos, havendo então interesse econômico da empresa adotar o município ourinhense.

O deputado Camarinha denunciara “violencias fiscais da Fazenda Estadual em uma usina de Santa Cruz do Rio Pardo.)” (Ultima Hora, 18/11/1959: 4), exatamente por estas questões, e daí a proposta e aprovação de novas divisas entre os dois municípios. 

O salário mínimo, desde sua criação, era dividido por regiões e sub-regiões: “Quando da sua criação em 1940, até meados da década de 1980, existiram vários níveis regionais para o salário mínimo, havendo ocasiões onde o maior valor era quase o triplo do menor valor.” (Franco, 2000: 1-2).

—Foram implantados 14 salários-mínimos, diferentes para cada região do país, às vezes dentro do próprio estado. Em 1963 já eram 38 salários-mínimos diferentes no Brasil, distribuídos nas diversas regiões e sub-regiões, recebendo reajustes diferenciados ao longo dos anos. Apenas em 1984, o mínimo foi unificado no país, mas hoje já existem diferenças. 

O primeiro caso rendeu votos a Camarinha na eleição seguinte; e no segundo, Jânio foi o eleito e, em represália ao deputado, vetou aqui a implantação do ‘Instituto de Letras e Filosofia’, em 1957, autorizando-o para Assis onde, acrescido dos cursos de História e Psicologia, fez-se o conjunto originário da atual ‘UNESP – Julio de Mesquita Filho’.

Do assunto, Teófilo Queiroz Filho assim resumiria: “Por razões políticas (o nosso representante na Assembleia Legislativa, o deputado Leônidas Camarinha, teve um desentendimento político com o governador), a faculdade foi para Assis e não para Santa Cruz.” (Debate, 07/11/2004, entrevista com Teófilo Queiroz: ‘Professor recebe título de Cidadão Emérito’).

Outra cinca, aponta o Camarinha distribuidor de falsos diplomas pela Escola Normal de Santa Cruz, e favorecera parentes e apadrinhados políticos, locais e de outras regiões, casos denunciados que obrigaram incêndio criminoso na secretaria da escola, ateado por dois funcionários, Walter Biel e Benedito Camarinha Machado, consumindo os livros e documentos que pudessem atestar as falcatruas.

Leônidas teve que se explicar junto ao então governador dr. Jânio da Silva Quadros, através da ‘Secretaria de Educação’, e não sem razões o insinuavam ‘incendiário’, pecha dada desde a queima da sede da UDN santa-cruzense (Jornal de Notícias, 08/01/1948: 3), a seu mando.

—Versão brandecida do incêndio na Escola Normal conta que Leônidas tão somente acorrera em favor daqueles dois servidores públicos, e que o fogo adveio de problemas elétricos.

Diante das atitudes políticas de Leônidas Camarinha, a desfavor do município, teria acontecido a dissidência, em 1957, liderada por Lucio Casanova Neto, Anísio Zacura e Onofre Rosa de Oliveira, abrigando-se na legenda do Partido Democrata Cristão – PDC, unido à UDN contra o grupo Camarinha, e Onofre Rosa de Oliveira foi eleito, em 1959, prefeito municipal tendo por vice José Osíris Piedade – Biju.

Leônidas Camarinha não perdoou o líder dissidente e fez chegar ao ministério público, em 1959, denúncias de desvios de dinheiro, materiais e medicamentos, ocorridos durante a gestão do antigo aliado, Lucio Casanova Neto (1956/1959), referente a repasse de diferenças de fretes do ramal sorocabano a favor do Município, ocorrido aos 10 de abril de 1957.

Leônidas ‘Lulu’ Camarinha, reeleito para a Assembleia Legislativa, Deputado Estadual (1959/1963), pela coligação PSD/PSO, com aumento significativo de votos, com 9.996 eleitores, e veio à forra contra o grupo de Lúcio Casanova, e em 1963 viu elegido o genro, Carlos Queiroz, para prefeito, e o sobrinho engenheiro, José Carlos Nascimento Camarinha, para vice.

Este foi o seu último grande feito político.

No pleito de 1966, para a Assembleia Legislativa – 1967/1970, Leônidas foi desistido nas urnas, com apenas 4.027 votos, enquanto o rival Lúcio Casanova Neto assumiu cadeira com 12.925 votações.

O grupo político de Leônidas, segundo denúncias de adversários, envolvera-se em escândalos político-administrativos, carreado por Cyro de Mello Camarinha, então processado por desvios de verbas públicas e peculatos, e José Carlos Nascimento Camarinha, acusado e preso por subtração de materiais e superfaturamento em obras do governo, além de outro Camarinha, o Benedito, complicado na onda de falsos diplomas escolares e incêndio na secretaria da escola.

A denominada ‘época política Camarinha’, após três décadas, chegava ao fim em outubro de 1969, com a trágica morte do ex-prefeito Carlos Queiroz, herdeiro político de Leônidas.

Camarinha, após a política, dedicou-se aos negócios particulares, gerenciando o Frigorífico Santa Cruz que possuía, em sociedade, visto em 1968 (DOSP: Publicações em Ineditoriais de 25, 27 e 30/01/1968), e depois em 1970 com as saídas e entradas de sócios:

—”511.419 – Frigorífico Santa Cruz Ltda. Santa Cruz do Rio Pardo – Retiram-se Jamil Abdalla, Luiz Coronado Rubio, João Homero Alcantara, José Theodoro de Andrade, José Pedron, Guilherme Zacura, Alicio Peixoto, Jeronimo Peres Milian, Antonio Maximiniano de Souza, José Pais de Oliveira, José Renofio e José Dias Vieira – Capital de 162.000,00 entre Hideo Yoneda, Leonidas Camarinha e Wilson Gargioni com 39.054,00 cada – Narciso Nardo 22.264,00 – Arlindo Nardo c/16.890,00 e Carlos Vasques Freire, c/ 5.784,00 .” (DOSP, 31/01/1970: 11)

O velho caudilho possuía, em sociedade, outros segmentos de serviços, por exemplo, o comércio varejista de combustível, com dois postos de revendas – um [por tempos chamado de ‘Posto do Pelé’] na avenida Tiradentes esquina com a atual rua Catarina Etsuko Umezu, e outro, o Posto Confiança I, ao final da Euclides da Cunha esquina com a Simão Cabral.

Consta, também, Leônidas Camarinha como membro do conselho fiscal da Itacolomy de Automóveis S/A (DOSP/Ineditoriais, 02/04/1966: 32), e, ainda, do conselho fiscal, remunerado, da empresa Companhia Americana Industrial de Ônibus, nesta constando o empresário Otacílio Piedade Gonçalves, diretor presidente; José Piedade Gonçalves, diretor gerente; e Ataliba Piedade Gonçalves, como associado, entre outros (DOSP, 22/04/19540: 43). 

Com Leônidas, em 1946, findou o período dos coronéis e mandadores na política santa-cruzense, e, já no ano seguinte, as eleições municipais seriam diretas, pelo voto popular.

 

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