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A política santa-cruzense no século XIX (parte I): Liberais e Conservadores

 

Sempre imaginado que a Santa Cruz do Rio Pardo de 1876, constituída vila, consequentemente município, firmava-se no ideário político-conservador de Joaquim Manoel de Andrade, chefe político local, “a quem nós chamamos o patriarcha da localidade, pelos seus muitos serviços prestados a ella” e “venerando ancião” (Correio Paulistano, 10/04/1884: 1-2, ambas as citações).

Santa Cruz, na condição de vila, adquirira direito em escolher seus representantes, e da primeira eleição de 1876 para vereadores, vinte e seis anos depois o hebdomadário santa-cruzense Correio do Sertão rememoraria o acontecimento como pleito, subentendido, ausente de disputas partidárias (Correio do Sertão, 19/07/1902: 2-3).

Não significou assim. Dois partidos políticos, o Conservador e o Liberal, já se rivalizavam desde Santa Cruz freguesia; o primeiro chefiado por Joaquim Manoel de Andrade, vinculado ao deputado Emygdio José da Piedade, e o seguinte por Joaquim José Botelho, sob ordens do coronel Francisco Dias Baptista, chefe político na comarca de Lençóis Paulista, na qual incluso o município santa-cruzense.

Os partidos diferenciavam-se.

– Partido Conservador

Organizado pelo Deputado Provincial coronel Emygdio José da Piedade, juntamente com Joaquim Manoel de Andrade, garantidores da vitória conservadora na primeira eleição municipal, em 1876, desconsideradas as acusações dos liberais de fraudes, violências e encabrestamentos de votos.

— O período pré-eleitoral santa-cruzense foi marcado por tumultos e violências, exigindo do Governo de São Paulo o envio de tropa policial para garantir a ordem, embora a autoridade policial não tivesse dúvidas em deter o destacamento vindo da capital, somente liberando-o após as eleições (Relatório do Governo de São Paulo –  RG, U 1127, 1877/1878: 50).

Em 1880 os conservadores disputaram e perderam as eleições municipais para os liberais, acusados os liberais do uso da violência e mais as denúncias de praxe dos perdedores, mas aí expostas suas mazelas como partido sensível às crises provinciais, exemplificada a dissensão de 1879, com a ala santa-cruzense atrelada aos cafeicultores e interesses progressistas.

Os conservadores santa-cruzenses, políticos e simpatizantes, temiam a federalização monárquica, proposta majoritária pelo diretório central do partido, ou uma indesejada república conservadora, entendida por muitos como terceiro reinado.

Dos temores locais, se estribados ou não, os eleitores santa-cruzenses voltaram-se, momentaneamente, para os liberais, conclamando o entradismo em Santa Cruz, até exacerbado, dos comandados do coronel Francisco Dias Baptista, para intervenção política.

Dentro do Partido Conservador buscou-se a reação com a União Conservadora, ganhando força sob a liderança do Conselheiro Antonio Prado (Correio Paulistano 18-12-1881: 1). A facção agigantou-se como força dissidente e ganhou a simpatia dos conservadores paulistas.

—Antonio Prado assumiu a chefia da União Conservadora em dezembro de 1881, e a ele aderiram os conservadores santa-cruzenses, num abaixo assinado de 21 de janeiro de 1882 (Jornal Correio Paulistano, 24/02/1882: 1), e a União Conservadora tornou-se força política na Província de São Paulo, somente destituída quando o advento republicano.

 

– Partido Liberal

A partir do ano de 1870 os liberais conquistaram importância no centro sudoeste paulista, na inicialização cafeeira regional, destacadamente a territorialidade do município e depois comarca de Lençóis Paulista, aí inclusa Santa Cruz do Rio Pardo.

O partido era forte e coeso, com premissa no fortalecimento provincial, com sistema federativo, considerando injusto o governo central, o que tornava atrativo, também, aos ideais republicanos. A estrutura liberal supria a ausência local do partido republicano.

Os liberais na região de Lençóis Paulista, abrangendo Santa Cruz do Rio Pardo, eram extremamente violentos no querer e fazer eleitos os seus representantes junto à província e legislativo central.

Com as criações de câmaras municipais, emancipação política de regiões agregadas ao termo de Lençóis, exemplos de Santa Cruz, Agudos, e a então Santa Bárbara do Rio Pardo, o coronel Francisco Dias Baptista fazia-se poderoso, apresentando-se em Santa Cruz com mais de meia centena de filiados, portanto, representativo e de importância regional nas eleições provinciais e gerais. A força de Baptista era temida e respeitada.

Os membros liberais santa-cruzenses eram influentes na sociedade da época, destacados Firmino Manoel Roiz¨ [Rodrigues], Francisco Antonio de Souza, Joaquim Francisco da Silva, José da Rocha Campos, Manoel Cândido da Silva, Raphael ou Rafael Silva de Arruda, Vicente Bezerra Machado e Victorino Gouveia Silveira, liderados por Joaquim José Botelho, o seu primeiro chefe político. 

O partido santa-cruzense, apesar de vinculado ao receado coronel Francisco Dias Baptista, não desprezava a força regional do capitão Tito Correa de Mello, fazendeiro, político mandatário botucatuense, situações estas observadas no pleito provincial de 1879, quando afinados à candidatura de Correa Mello para a Assembleia Provincial, já manifesta a 13 de julho de 1879, numa reunião partidária em Avaré, ainda Rio-Novo (Jornal A Constituinte, 01/11/1879: 3).

Detectado o vínculo dos liberais santa-cruzenses com capitão Tito, melhor articulador que Dias Baptista, após as eleições provinciais ocorreu a substituição do coronel Joaquim José Botelho pelo delegado de polícia, Nicolau Tolentino Roiz¨ Barreiros, o principal nome no pleito municipal de 1880. Somou-se à queda de Botelho ser este contra as pretensões do município, da então Santa Bárbara do Rio Pardo, avançar divisas sobre território de Santa Cruz, com apoio do bilioso coronel Dias Baptista.

A manobra santa-cruzense, para ocupar a Junta Paroquial e determinar os rumos das eleições municipais de 1880, fez revelar maior a truculência de Dias Baptista ao invadir Santa Cruz do Rio Pardo com sua tropa, de maneira ostensiva, ameaçadora e armas em punho, atirando para o ar, portando bandeiras vermelhas fixadas nas celas das montarias, inclusive a adentrar no templo da igreja matriz, em horário de culto, acontecimento reportado pelo jornal Correio Paulistano:

—”Eleição Municipal em Santa Cruz do Rio Pardo

A prudencia dos conservadores desta villa deve-se não ter havido ali scenas iguaes as do Jahu, por occasião do processo eleitoral.

De pessoa fidedigna recebemos a seguinte communicação:

-Transcrição-

-No dia 28 de Junho, sob a presidencia do segundo Juiz de paz, Luiz Antonio Rodrigues, organisou-se a mesa parochial, sendo eleitos para mesarios dois conservadores.

No dia 29, quando o povo se achava na igreja, ouvindo a missa conventual, entrou o coronel Francisco Dias Baptista, acompanhado de quarenta e cinco capangas todos armados, trazendo dois delles bandeiras vermelhas, marchando á dois de fundo, com as armas em punho e bandeiras desfraldadas; rodearam a egreja e desfilaram pelas ruas da villa, indo todos apear-se na casa do delegado de policia Nicolau Tolentino Rodrigues Barreiros, donde logo depois e do mesmo modo, dirigiram-se para a casa do primeiro supplente do juiz municipal, Theodoro de Camargo Prado. Pouco depois, distribuidos em grupos de oito e dez, armados de garruchas, facões e porretes, passeavam pelas ruas.

No dia 30, á tarde, foi novamente a villa invadida por um outro grupo de vinte e quatro homens, armados de garruchas, rifles e espingardas, o qual, tambem de bandeira vermelha passeou pelas ruas e foi recolher-se á casa do dito juiz municipal.

Sob taes auspicios ia se proceder a eleição quando, para maior escandalo, a maioria da mesa, resolveu fazer a chamada pela qualificação deste anno, finda no dia 28, depois de organizada a mesa, sendo que a convocação havia sido feita pela qualificação do anno passado.

Como era natural, esta absurda resolução foi recebida com vivos protestos dos conservadores; entretanto, para evitar desordens e derramamento de sangue, em vista do estado dos animos, concordaram em adiar-se a eleição, para o fim de consultar-se o governo, sendo designado o dia 7 de Setembro para continuar a eleição”. (Correio Paulistano, 15/07/1880: 1).

As ações intimidatórias comandadas pelo famanaz coronel Dias Baptista, em Santa Cruz, e a vitória liberal nas urnas, foram manchetes em jornais das grandes capitais, dividindo opiniões, o Correio Paulistano recriminando os atos, e o diário A Constituinte justificando que não houve nenhuma invasão, apenas companheiros e partidários se reunindo, aclarando ideias e temas políticos, direito de todos, sem cores partidárias:

—”O respeitável ancião, e muito considerado chefe liberal, o distincto Coronel Francisco Dias Baptista é apontado pelo Correio Paulistano, como um homem que só vive cercado de capangas perturbando a ordem pública por toda a parte.” (A Constituinte, 16/07/1880: 1).

A matéria discorre inocentando o coronel Francisco Dias Baptista dos entradismos políticos intimidatórios em Jaú e Santa Cruz do Rio Pardo. Para os partidários liberais o chefe coronel Dias Baptista acorrera Santa Cruz para evitar o esbulho eleitoral conservador, cuja intervenção saudada por todos os eleitores com festejos e foguetórios, e, até a entrada na matriz ocorrera a convite de féis, no ato do santo ofício, embora o vigário padre Próspero Antonio Iorio, lhe fosse politicamente contrário.

A população santa-cruzense repudiou os feitos liberais nas invasões da vila e da matriz, ainda mais, quando os liberais ergueram paredes de alvenaria em torno da igreja de madeira, por conta da câmara municipal, sentindo-se pressionado e perseguido o padre Iorio que retornou para a Itália.

Após os acontecimentos últimos o coronel Dias Baptista entrou numa apatia política, vendo os liberais depostos pelos conservadores na câmara santa-cruzense, ainda dentro da legislatura para a qual eleitos em 1880, sem esboçar qualquer reação. Também a ausência de expectativa política futura, sem nenhum ungido para substituí-lo, assistiu o Partido Liberal encolher-se em toda a comarca lençoense, substituído pelo Partido Republicano Paulista, e o coronel a antever o final do próprio poder.

Desde o ano de 1882, muitos dos mais ilustres nomes liberais da província aderiram ao PRP – Partido Republicano Paulista, ou a ele simpáticos. Talvez aí justificada a impassibilidade política do coronel Dias Baptista, falecido em 1887.

 

 

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