O PRP, ideado em 1872 e fundado em 18 de abril de 1873, durante a Convenção Republicana em Itu, SP, selou a união entre os fazendeiros e os teóricos do Clube Republicano.
O republicanismo, com forte repúdio ao império, atraía classes econômicas fortes, sobretudo dos fazendeiros, temerosos com os efeitos da ‘Lei do Ventre Livre’; consequentemente o partido político republicano não era popular e, assim, ruim de votos.
Em Santa Cruz a grei não apresentou história imediata, e, apenas em 1886, elegeria seu primeiro vereador, o futuro coronel Marcello Gonçalves de Oliveira; o partido ganhou destaques com o golpe militar de 1889 que destituiu a monarquia e implantou a república no Brasil.
Com o advento republicano, o coronel Emygdio José da Piedade, presidente do legislativo santa-cruzense, deixou o cargo e declinou convite para a chefia da nova ordem, sugerindo que ela fosse assumida por membros republicanos no município. O experiente político não ignorava que os militares golpistas em nada se identificavam com o Partido Republicano, apenas adotavam a sigla, mas, ainda assim, o coronel Marcello Gonçalves de Oliveira consolidou o Partido Republicano no município.
Os filiados perrepistas tinham importância social e econômica, graduados da Guarda Nacional, os futuros coronéis João Baptista Botelho, Moyses Nelli – italiano, Arlindo Crescêncio da Piedade – filho do conservador Emygdio José da Piedade, além de Marcello o ‘prestigioso chefe político’.
Duas alas então formadas e disputantes, entre si, pelo diretório municipal: os anteriores ao golpe de 1889, a ‘velha guarda’, com os liderados por Marcello, fortalecidos com a presença das famílias Costa e Sodré; e os posteriores ao golpe, ‘os adesistas’ ou ‘nova guarda perrepista’, pelo então tenente-coronel Botelho, egresso do findado Partido Liberal, à frente de outros companheiros e simpatizantes.
Uma primeira crise perrepista local, conhecida, levou o coronel Marcello resignar-se da chefia partidária, por se sentir traído e desprestigiado com o afastamento ou recolhimento do sargento comandante da força policial local, e a demissão do promotor público Joaquim Pereira de Barros, sem sua anuência ou ordem, conforme carta de sua lavra datada de 26 de novembro de 1890 (Correio Paulistano, 10/12/1890:3).
No lugar do coronel Marcello Gonçalves de Oliveira assumiu o João Baptista Botelho, partido agigantado desde a instalação da comarca e a chegada de ilustres famílias republicanas, a contar de 1891, capitaneadas pelo advogado e político federal, Antonio José da Costa Junior e seu genro, o médico Francisco de Paula de Abreu Sodré.
A convivência de Botelho com Costa Junior não foi das melhores, e já em 1892 o PRP enfrentava nova crise interna, exigindo mudanças no diretório (Correio Paulistano, 22/12/1892: 2), daí destituídos todos os membros, João Baptista Botelho, João Evangelista da Silva, Joaquim Fernandes Negrão, Firmino Manoel Rodrigues e Pedro Custódio Guimarães. No lugar dos excluídos, com apoio das famílias Costa e Sodré, reassumiram os republicanos da ‘velha guarda’, o coronel Marcello Gonçalves de Oliveira, o coronel Moyses Nelli, o tenente Luiz de Oliveira Martins, e Manoel Garcia de Oliveira.
Mas, a ‘nova guarda perrepista’ cativava partidários e a ela integrou-se o advogado e deputado estadual republicano, Olympio Rodrigues Pimentel, vindo de Silveiras – SP para Santa Cruz, onde se revelaria líder partidário oposicionista dentro do mesmo PRP, na ausência, por morte, do coronel João Baptista Botelho.
As disputas eram intensas. Ser chefe implicava na capacidade do mandatário controlar atribuições políticas, administrativas, policiais e judiciárias do lugar. O prestígio do mandatário aumentava conforme assegurasse o voto dos eleitores de sua zona para os candidatos aos cargos do poder central, provincial/estadual e municipal.
Em 1894 o coronel Marcello Gonçalves de Oliveira estava no Comando Superior da Guarda Nacional da Comarca (Diário Oficial da União – DOU, 04/11/1893: 1), denominado como o ‘prestigioso chefe político perrepista’ numa recepção aos ‘soldados’ santa-cruzenses partícipes da Revolução Federalista de 1892/1893 (Correio Paulistano, 18/07/1894: 2).
Com a morte do coronel Marcello, em 1896, Baptista Botelho assumiu a liderança perrepista local, até 1901, quando destituído pelo grupo de Costa Junior/Abreu Sodré. Depois viriam outros líderes e novos confrontos.
Agremiação extemporânea, sem qualquer importância no contexto político local, surgiu no ano de 1890, sob a denominação de Partido Católico, juntamente com um órgão oficial de imprensa, ‘O Cruzeiro’.
Anterior à criação partidária, blocos católicos se firmavam no legislativo brasileiro, representando interesses da oficialidade religiosa, inclusive em Santa Cruz do Rio Pardo, grande comarca eclesiástica, onde se previa partido amplo além de toda a estrutura oferecida pela Igreja.
Atuou em favor do Partido Católico, em Santa Cruz do Rio Pardo, o padre Bartholomeu Comenale que, além das atividades eclesiais, como vigário forâneo, também era político, vereador, a exercer, a seus tempos, os cargos de intendente e presidente da câmara.
O Partido teve início local também aos 20 de julho de 1890:
—”(…) instalou-se nesta villa o partido catholico, estando presentes mais de trezentos cidadãos, dos quaes mais de duzentos assignaram a acta. Foi lido e aprovado o programma do directorio central da capital federal, e foram eleitos presidente o humilde signatário destas linhas e membros Manoel Garcia de Oliveira, Luiz Antonio Rodrigues, Tiburcio Antunes dos Santos e Firmino Silverio de Andrade.
Foi deliberado que em tudo dependeriamos desse directorio; pelo que vos peço esclarecimentos e instrucções, para poder bem desempenhar a nossa nobre missão.” (Jornal O Cruzeiro, 31/07/1890: 1; 05/08/1890: 2 e 08/08/1890: 2).
No prestígio do padre Comenale, o partido sustentou-se em Santa Cruz, embora não tivesse acompanhado a orientação partidária nacional de 1891, para o apoio a Deodoro, seguindo corrente perrepista local a favor do Floriano Peixoto, opção mais segura para a sobrevivência republicana, e o Partido Católico aí esgotou-se.
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