Eu sofro da coluna desde os vinte anos. No começo era só um incômodo no fim do dia. Ao voltar para casa, de ônibus, os braços carregados de sacolas com cadernos e provas para corrigir, aquela passadinha rápida pela frutaria (mais uma sacolinha só), uma abaixadinha para pegar a chave que caiu no chão e…travava.
Mas era só uma travadinha, daquelas que a gente esquece enquanto põe a roupa no varal e espera o arroz secar na panela. Tranquilo.
Vez ou outra, naquela época já dando aulas no Rio Branco, o professor de judô me socorria no pátio:
-Ei, professora, não levanta daí não?
-O senhor acredita que estou assim de novo? Fui pegar uma pilha de cadernos no banco de trás do carro…
-Os intervalos entre uma crise e outra estão diminuindo, né?
Esse “né”, tão frequente na fala do mestre do judô, tão delicado no jeito de falar, escondia um puxão de orelha. Se eu fosse traduzir:
-Tome vergonha na cara e vá tratar desse problema!!!
Eu fui. Uns trinta anos depois, quando os intervalos quase deixaram de existir e eu passei a ficar semanas seguidas na cama, imóvel. Porque não tive escolha. Ou cuidava ou não andava. Pronto.
Mas, ah, eu tão jovem, que perda de tempo essa coisa de coluna, passava tão rápido. Depois eu cuido. Depois eu cuido. Depois eu cuido.
Sabe a pia de louça suja? Sabe a roupa para lavar? Aquela diferença com aquela pessoa? Não deixe acumular. Só piora.
Faça o mesmo com o amor. Cuide. Diga que ama. Espalhe amor. Divida.
Hoje. Ainda hoje. Agora mesmo. Né?
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