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Coluna da Kali: “Para as dores antigas?”

Antigamente, quando a gente se assustava, caía da bicicleta, tinha aquele choro de perder o fôlego, a mãe dava um copo de água com açúcar.

-Bebe. Vai passar.

E a gente metia a cara naquele copão e dava de frente com um redemoinho de cristais brancos, girando, girando e sussurrando “já vai passar, já está passando…”

Tanta coisa eu queria reviver tendo a noção que tenho hoje de quão preciosas eram essas experiências! Quem dera!

A mãe sabia porque sabia, intuitivamente; sabia de já ter vivido, empírico saber; sabia porque havia herdado essa sabedoria. E a aplicava assertivamente.

Em algum momento a gente deixou de aprender. Quebrou-se a corrente, rompeu-se a ligação pela qual eram transmitidos os saberes. Acionaram o botão das dúvidas e o saber que se tinha passou a ser questionado, diminuído, ridicularizado e por fim, esquecido. Crendices. Lendas. Não tem comprovação científica. E Lá se foi toda a herança, tesouro passado de geração a geração, curando leite empedrado, vento virado, olho de peixe, sarampo, catapora, íngua, xixi na cama, tosse comprida, barriga d’água…

A gente nada sabe como sabiam nossas mães. Ou a gente sabe diferente. Um saber mais frio, desprovido de todo encantamento.

Tudo se curava com um bom copo de água com açúcar. Servia para tudo e todos tomavam, obedientes.

Assim foi comigo, quando prendi o pé na roda da bicicleta do meu irmão. Caí e segui sendo arrastada pela rua que esperava o asfalto, coberta de pedregulhos. E chorei. Chorei porque doeu e porque sempre fui chorona. Ainda guardo uma cicatriz ou outra, nas costas, lembranças de uma infância vivida no interior. Livre e feliz.

Minha mãe curou o choro com um copo de água com açúcar. Depois veio mertiolate e assopro nos machucados, pedrinha por pedrinha, tiradas com a ponta da agulha.

-Tem que arder. Quando arde é bom porque cura.

Pode substituir o açúcar da água por adoçante? Pode. Tudo pode, mas nem tudo convém.

Que graça isso tem?

Nem tem redemoinho de cristais, nem tem ralado no joelho, nem cotovelo esfolado, nem dente de leite pendurado…

-Onde é que dói, minha filha, onde é?

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COMENTÁRIOS:

G
Guca Domenico
Vick vaporube, hipoglós e benadril. Que doença pode com este trio?

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