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Especial Tonico Lista (parte IV): “Ondas de violências, atentados e mortes”

Histórico documentado sobre o mais icônico político mandador na comarca santa-cruzense-do-rio-pardo, o famanaz coronel Antonio Evangelista da Silva, alcunhado Tonico Lista, nome amado e odiado tanto que, ainda no ano de 2022, desperta paixões, causa polêmicas.

Ondas de violências, atentados e mortes

– O coronel Pedro Sylvio Pocay, de Salto Grande, foi morto no ano de 1913, num crime bem engendrado e nunca esclarecido. Para alguns, Pocay intentava ocupar o lugar do coronel Sanches, situação inadmissível por Tonico Lista.

– Em 1914 Tonico Lista determinou aos seus capangas, Christalino Rodrigues da Silva e João de Paula Garcia, que invadissem o domicílio do capitão Theodorico José Teixeira Franco, renomado músico local, para agredi-lo fisicamente, ocasião que João de Paula apunhalou vítima, sem causar-lhe a morte (O Combate, 03/11/1921: 3 – expediente forense). 

— Embora parentes, não se deve confundir Christalino Rodrigues da Silva com seu homônimo cirurgião-dentista, nem com Christiano Rodrigues da Silva.

Num segundo atentado o capitão Theodorico Franco viu-se atacado, numa noite, pouco depois que deixara a Igreja, mas, o inquérito policial não prosperou. Atribuiu-se o atentado ao grupo de Tonico Lista, considerando o capitão ferrenho oposicionista, situação confirmada em 1921, quando a União dos Artistas de Santa Cruz do Rio Pardo “adheriu ao Partido Municipal, demittindo o regente sictuacionista e acclamando o Capitão Theodorico Franco para o substituir.” (A Ordem, 02/06/1921: 1).

– Benedicto Carmagnani era credor de Tonico Lista, quantia de 260 réis, e intentou recebê-la, em abril de 1915. Lista sentiu-se irritado e bateu de cacete em Carmagnani que, querendo sair em retirada deparou-se com João Evangelista Neto, filho de Lista, de 13 anos de idade, “que empunhava uma garrucha, apontando para a victima.” (O Combate, 03/11/1921: 3 – expediente forense).

– O coronel Albino Alves Garcia, líder em Bernardino de Campos, divergiu de Lista (Rios, 2004: 114), em 1917, para tornar a localidade vinculada ao recém município de Ipaussu, cujo líder o coronel Henrique da Cunha Bueno. Lista não temeu investir em atentados contra Alves Garcia (Correio Paulistano, 01/11/1917: 9) e Cunha Bueno, sendo Joaquim Alves de Lara o encarregado dos atos (A Ordem, 29/11/1921: 2).

— Expediente forense de Santa Cruz do Rio Pardo (Apud O Combate, 03/11/1921: 3), relata que no mês de fevereiro de 1918, Lista mandou invadir a residência do médico Álvaro Camera que, atemorizado, deixou a cidade. O facultativo recusara dirigir-se até um esconderijo para atender o jagunço Joaquim Alves de Lara, ferido numa emboscada. 

– Ainda pelo expediente forense local, no mês de setembro de 1919 certo João Rapello, após concluir seu trabalho nas obras da Igreja Matriz, procurou pelo responsável Tonico Lista para receber o seu dinheiro combinado. O Coronel zangou-se com a cobrança em público e agrediu verbalmente o cobrador, e depois, tomando o ‘rabo-de-tatu’ das mãos de um dos presentes, surrou impiedosamente o Rapello, e o “delegado de policia, dr. João Francisco de Oliveira, fez sentir á victma o risco de vida que corria, se insistisse em instaurar inquerito sobre o facto” (O Combate, edição de 03/11/1921: 3 – expediente forense). 

 

Mais feridades: o Lista ‘ensandecido’

Os expedientes forenses, em forma de relatório, publicados na imprensa, revelam um pouco mais sobre Tonico Lista:

– Em 1º de janeiro de 1920 o coronel Tonico Lista, sem revelar motivo ou que houvesse causa aparente, de revólver em punho tentou agredir o menor Heitor Pimenta, 17 anos, ato não consumando pela interferência da polícia. O episódio deu asas às imaginações, Pimenta teria se engraçado com a Rita, filha mais velha de Tonico Lista, ou, numa discussão ordinária, que fosse por causa da jovem, Heitor deu uns empurrões no irmão dela, Joãozinho, 15 anos.

— Heitor Pimenta, filho de Juvenal Pimenta e dona Honorina Martins, no mesmo depois ingressou no serviço público como Oficial de Registro Geral de Hipotecas e Anexos, em Santa Cruz do Rio Pardo, onde trabalhou por algum tempo (Diário da Justiça do Estado de São Paulo, 27/12/1934: 33), para em 1923 ser nomeado interinamente para o Ofício do 1º Tabelião de Notas e Anexos da Comarca de Bauru (Correio Paulistano, 01 de maio de 1923: 3), onde residiu por longos anos e foi destaque na sociedade local, antes de transferir-se para Cafelândia como Escrevente do Cartório do 1º Tabelião de Notas e Anexos e, logo depois, nomeado sucessor vitalício do serventuário daquele ofício; foi casado com dona Iracema B. Pimenta (Correio Paulistano, 04/08/1942: 2).

— Heitor Pimenta, ainda jovem, participou de um festival em benefício da Santa Casa de Santa Cruz do Rio Pardo, como parte integrante na organização musical (Correio Paulistano, 22/12/1920: 5).

– No mês de fevereiro de 1921, Lista “mandou cinco ou seis capangas, armados de carabinas, com o fim de obrigar Severino José de Moura, a sahir com sua familia, das terras que possue no sitio denominado ‘Agua do Serrado’, onde reside ha 30 annos.”

O relatório finaliza “Que é publicamente indigitado como autor material e moral de inúmeros crimes, violencias e atentados, conseguindo sempre, graças á sua habilidade, furtar-se á acção da justiça”. (O Combate, 03/11/1921: 3).

Os predomínios de Lista chegavam a Platina, pós morte do Coronel Sanches, através de seus primos coronéis, Azarias Gomes Ferreira e Joaquim Ferreira de Lima. Também a região de Palmital esteve sob sua influência: “O municipio de Palmital é governado pelos prepostos de Tonico Lista (…).” (O Combate, 21/09/1921: 1-3), onde dividiam mandos José Machado e Cândido Dias de Mello.

—Machado e Dias de Mello divergir-se-iam, em 1922, após a morte de Lista, e Mello matou Machado no episódio que ficou conhecido como a ‘Guerra dos Coronéis’.

Com o expansionismo de seu poder, o coronel Tonico Lista colecionava ainda mais inimigos e muitos queriam sua morte.

O caso Foschini/Dr. Giraldes

Em 1919 a reação regional ‘anti-Lista’ estava forte, com risco de a oposição ganhar o pleito em Ourinhos, pelo oposicionista Fernando Foschini, ligado a Jacintho Ferreira e Sá.

Lista era o prefeito santa-cruzense e Eduardo Salgueiro em Ourinhos quando, aos 30 de outubro de 1919, véspera das eleições previstas, aconteceu uma tocaia para matar Fernando Foschini, este, porém, reagiu e liquidou um dos seus agressores, um policial, e reconheceu o outro que fugira. A situação, pró Lista, ganhou o pleito eleitoral em Ourinhos, sob as suspeições de fraudes e violências.

Sobre o atentado em Ourinhos as versões são, ainda hoje, divergentes. Para alguns Fernando Foschini teria assassinado um policial desarmado, conforme declaração às folhas 65-verso, em Inquérito Policial sobre a ocorrência (Rios, 2004: 131), e inventado a história de atentado, acreditada por muitos. 

Sob a alegação de legítima defesa Foschini contratou o advogado Francisco Giraldes Filho, decidido a apontar o sobrevivente e revelar o ordenador da tocaia. Lista considerou desaforo o dr. Giraldes aceitar causa contrária aos interesses santa-cruzenses. 

No Clube 21 de Abril, situado no Largo do Jardim – atual Praça Deputado Leonidas Camarinha, em Santa Cruz do Rio Pardo, Tonico Lista ao ser cientificado das pretensões de Foschini e de Giraldes teria ameaçado espancá-los, e tal pronunciamento deu-se nas presenças de Benedicto Xavier e Francisco Vidal.

Na residência do advogado dr. Mesquita Barros, em São Pedro do Turvo, onde em discussão a partilha da Fazenda Anhumas, de propriedade da viúva Deolinda Cândida Coelho – cujo marido, João Pedro Teixeira Coelho, teria sido assassinado a mando de Lista, também presentes citados a própria viúva, o advogado dr. Giraldes, e o coronel Tonico Lista. Na ocasião houve um bate-boca entre Giraldes e o coronel e este repetiu a ameaça que Giraldes poderia ser espancado e Foschini morto. 

Pouco depois o dr. Giraldes seria agredido por João de Paula Garcia e Nabor de Lara Toledo, na gare ferroviária de Chavantes, no dia 18 de novembro de 1919, por ordem de Tonico Lista. Nabor mantinha Giraldes sob a mira de um revólver e um porrete, enquanto Garcia chicoteava a vítima que, após caída, foi violentamente espancada, às vistas de quarenta ou mais testemunhas.

Todos os identificados foram ouvidos em inquérito policial, intencionalmente malconduzido pelo subdelegado, e o chefe político em Chavantes, Ozorio Bueno, avocava para si a intelectualidade e a responsabilidade do crime, para livrar Lista das responsabilidades.

A história revela silentes o judiciário e a segurança pública, aos detalhes e divulgações de cada um dos crimes que muitos atribuíam a Lista, entre 1909 a 1920, quando nem juízes, promotores ou delegados de polícia, nomeados, podiam permanecer na Comarca sem o seu beneplácito.

A situação, no entanto, agravou-se com a morte de Fernando Foschini, noutra emboscada, aos 08 de abril de 1920, sendo Lista suspeito de mando.

Semanário ‘A Ordem’, edição de 17/11/1917: 2 – de alguns dos crimes atribuídos a Tonico como mandante

 

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