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Especial Tonico Lista (parte IX): “O enfrentamento final – primeira parte”

Histórico documentado sobre o mais icônico político mandador na comarca santa-cruzense-do-rio-pardo, o famanaz coronel Antonio Evangelista da Silva, alcunhado Tonico Lista, nome amado e odiado tanto que, ainda no ano de 2022, cem anos após sua morte, desperta paixões e causa polêmicas.

 

O enfrentamento final – primeira parte

A trajetória de Tonico Lista, na historiografia santa-cruzense, foi repleta de acontecimentos violentos identificados ao longo do seu domínio coronelista, nenhum deles mais indignificante que a expulsão do juiz de direito Francisco Cardoso Ribeiro, em 1909, obrigado às pressas abandonar a comarca, escondido numa carroça-baú de entrega de pães.

Onze anos depois, uma sequência de acontecimentos em Santa Cruz do Rio Pardo indicava, o fim do coronelato de Tonico Lista; em abril de 1922, o maior recado que os opositores podiam lhe dar, o atentado fracassado em frente da Câmara Municipal que se transformou num tiroteio entre as partes, com vários feridos e três mortos. Poderiam tê-lo matado, assustou-se, quebrou o orgulho e recorreu ao Secretário da Justiça e Segurança Pública pedindo-lhe proteção; não lhe deve ter sido tarefa fácil: 

– “Avisado de que seria assassinado o chefe perseguido veiu a S. Paulo e pediu garantias de vida. Fosse descansado, nada lhe succederia, garantiu-lhe o secretário da Justiça. E quem o garantiria? Certo, a policia. Voltou o chefe de Santa Cruz confiante na sinceridade do dr. Cardoso Ribeiro. De facto, a casa do coronel Evangelista era guardada por um soldado, fardado e armado.” (O Estado de São Paulo, 14/12/1922: 20, F. de Assis, A verdade dos factos – Santa Cruz do Rio Pardo). 

Na matéria F. de Assis, o Lindolpho Ferdinando [de] Assis, identifica-se “Amigo do coronel Antonio Evangelista da Silva, e conhecedor de todos os pormenores dos acontecimentos que ensanguentaram barbaramente a cidade de Santa Cruz do Rio Pardo (…)”; documentos outros atestam essa proximidade.

O atentado trouxe para Santa Cruz a força policial da capital, parte da equipe do famigerado repressor delegado Virgilio do Nascimento (Correio da Manhã, 15/05/1922: 2), para desarmamento da população, e, entre os soldados estava o Francisco Alves, alocado para ordenança do delegado de polícia santa-cruzense, dr. Victor Brenneisen e disponibilizado ‘guarda-costas’ de Tonico Lista.

— Alves lotado na capital paulista, nascido e criado na zona rural do antigo município santa-cruzense, descendente de família bastante conhecida. Outra parte da equipe do delegado Nascimento encontrava-se a serviço em Tatuí (O Combate, edições de 28/04/1922: 3 e 03/05/1922: 1). 

Sepultamento dos mortos no atentado a tiros contra Lista ocorrido em frente à Câmara em 29 de abril de 1922.

Atentado fatal – versão oficializada

A versão ‘oficializada’, até difícil acreditar que tenha ocorrido assim:

— “No dia 8 de julho de 1922, Tonico como sempre fazia, levanta-se cedo e vai ao negócio de seu particular amigo Sr. Mizael de Souza Santos, também conhecido como Zaéca, onde senta-se para conferir uma caderneta de um matador de formigas da Prefeitura Municipal. 

Tonico fica com as costas para a rua quando chega um soldado da Força Pública e pede duzentos réis de pinga. Sai, vai ao meio da rua e volta, pede nova dose que não chega a beber. 

Tonico percebe algo estranho e faz menção de levantar-se. Nesse exato momento o soldado dá aos gatilhos de dois revólveres, calibre 38, que trazia nos bolsos de sua japona. Tonico procura abrigo atrás do balcão, quando novos disparos surgem das armas do soldado.

Após isso, o miliciano retira-se apressadamente do negócio. Tonico saca de seu revólver e sai em perseguição ao seu traiçoeiro agressor, sentindo, no entanto, que as forças já lhe faltavam, já que um dos disparos do soldado o atingira nas costas, penetrando o projétil por aí atingindo um rim e o estômago. Tonico encosta o braço armado na parede do empório e procura acertar o militar, que em uma desembalada carreira fugia do local. Embora mortalmente ferido o intrépido chefe ainda acerta a clavícula de seu agressor, de uma distância aproximada de quarenta metros. O soldado ao receber o impacto da bala cambaleia e cai no chão o que leva o coronel Tonico Lista a acreditar que tinha liquidado o traiçoeiro mercenário.” (José Ricardo Rios, ‘Coronel Tonico Lista – o perfil de uma época’, publicação Debate 2004: 163-164).

Lista foi socorrido e, por decisão médica, conduzido à São Paulo, acompanhado pelo facultativo Pedro Cesar Sampaio, numa composição férrea da Sorocabana, especialmente fretada, vindo falecer, durante a viagem, por hemorragia.

A morte do coronel ocorreu na madrugada de 09 de julho de 1922, por volta das 2,30 horas, próximo à estação de São Roque, e seu corpo, após necropsia e laudo cadavérico, velado na residência da família em São Paulo (Correio Paulistano, 11 de julho de 1922: 3), de onde saiu o féretro para o sepultamento no Cemitério Araçá (Livro de Óbitos, julho/agosto de 1922: 44 – www.familysearch.org). Dr. Carlos Gonzaga de Oliveira, outrora morador em Santa Cruz, foi o legista.

— “Cópia do Laudo Médico

Levantamento cadavérico

Em dez de julho de 1922, nesta cidade de São Paulo, no necrotério do Araçá se achava o Dr. Carlos Pimenta, 5º Delegado de Polícia. Médico legista, Dr. Carlos Gonzaga de Oliveira. Foi feita a autópsia de Antonio Evangelista da Silva.

Em um caixão envoltuário coberto de jancas pretas e galões amarelos, tendo as pernas em extensão e os braços cruzados sobre o peito, o cadáver de Antonio Evangelista da Silva, também conhecido como Tonico Lista.

Vestimento: palitot, calça e colete de casimira preta, camisa e ceroulas brancas, meias listradas de vermelho, gravata e botinas pretas e prendendo o maxilar inferior e amarrado sobre a cabeça, um lenço branco manchado de sangue.

Causa da morte: Hemorragia provocada por tiro de revólver, tendo sido atingido os rins e o estômago…” (José Ricardo Rios, ‘Coronel Tonico Lista – o perfil de uma época’, 2004: 165).

Os autores não localizaram o original do laudo cadavérico, porém, à maneira descrita não diz muito, aparentemente firmado no visual e/ou por informações, do cadáver vestido e já no caixão, percebe-se, já no momento do sepultamento, também a causar estranheza, salvo erros de transcrições, a citação dos órgãos atingidos, ‘os rins e estômago’, impossível se um só tiro tenha acertado o alvo.

No expediente de sepultamento, Cemitério do Araçá – S.P, consta:

— “Aos dez de Julho de mil novecentos e vinte e dois, sepultou-se na quadra sessenta e tres, terrenos perpetuos duzentos e nove e duzentos e trinta e dois, [o] cadaver de Antonio Evangelista da Silva, com cincoenta e tres annos de edade, natural de São Simão, São Paulo, fallecido no dia nove as duas e meia horas, victima de hemorrhagia interna traumática attestado do Doutor Carlos Gonzaga de Oliveira. Certificou o escrevente do Registro Civil da Consolação, Mario Piazza.” (Sepultamento de Tonico Lista, Cemitério Araçá, SP: Livro de Óbitos, julho/agosto de 1922: 44 – www.familysearch.org).

Rios, reconhecidamente o primeiro a escrever sobre Tonico Lista, não revela sua fonte de informação sobre o atentado que levou o coronel ao óbito, certamente advinda do Mizael de Souza Santos, Zaeca, existindo, no entanto, outras variantes referenciadas, mas, nenhuma delas de testemunha presente no fato (http://santacruzdeantigamente.blogspot.com/2015/09/os-coroneis-e-mandatarios_6.htm). 

(Sepultamento de Tonico Lista, Cemitério Araçá, SP: Livro de Óbitos, julho/agosto de 1922: 44 – www.familysearch.org)

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Contato: pradocel@gmail.com   

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