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Santa Cruz do Rio Pardo: “cynica bacchanal politica” – consequências

 

Revelações inéditas para os tempos de agora

O coronel João Baptista Botelho em 1899/1900 dominava a política local, absoluto, quando o Presidente do Estado de São Paulo, Francisco de Paula Rodrigues Alves, sob a promessa do Presidente do Brasil, Manuel Ferraz de Campos Salles, torná-lo sucessor, rompeu o acordo com os coronéis interioranos ao aceitar do governo federal a imposição do nome de Bernardino de Campos Junior, para presidência paulista, em detrimento de José Alves de Cerqueira Cesar.

— Cerqueira Cesar era amigo do coronel Botelho, possuía fazenda no município de Santa Cruz do Rio Pardo e, pelo menos, três de seus filhos residiam no lugar. 

Botelho, sob influência, apoio e liderança do advogado e ex-deputado provincial, Olympio Rodrigues Pimentel – a eminência parda no poder santa-cruzense, opôs-se aos governos federal e estadual, ensaiando rebelião simpática aos coronéis da região. 

Ao assumir a condição rebelada, o coronel Botelho perdeu a confiança dos governantes do estado e da república, abrindo a oportunidade para ascensão do grupo político formado pelo deputado federal, Antonio José da Costa Junior, e seu genro, Francisco de Paula de Abreu Sodré, colocando o Botelho e seus correligionários na dissidência.

— Costa Junior, político habilidoso, soubera detectar os insatisfeitos no grupo ‘perrepista’ santa-cruzense e assumiu o controle do diretório municipal, em desfavor ao Coronel Botelho; amigo de Campos Salles, Costa Junior a este fidelizou-se, embora fosse sogro de Júlio Cesar, filho de Cerqueira Cesar, oportunismo evidente ao colocar interesses políticos acima dos laços de família.

O ‘PRP’ santa-cruzense dividiu-se, então, em dois grupos rivais cujos braços armados, alcunhados de ‘Jagunços’ ou ‘Jagunções’ – a serviços do dissidente coronel Botelho, e os de ‘Pica-Paus’ de Sodré e Costa Junior, que tornaram Santa Cruz lugar de intensa violência, a atingir contornos de tragédia nas eleições municipais de 16 de dezembro de 1901.

O engenheiro e arquiteto alemão, Edmundo Krug, a serviço do governo paulista nos levantamentos das bacias hidrográficas, terrenos e aberturas de estradas na região, comentou os acontecimentos de 1902:

—”Ahi ha pessoas de posição social bem elevada, dizem-me, porem, que justamente houve lutas bem renhidas na epocha da effervecencia política, e tudo porque? pensam os meus leitores, talves, por causa do bem estar do logar? enganam-se si assim julgam: tão hospitaleira é esta terra, mas as fraquezas humanas são sempre as mesmas em todas as cidades, em todas as regiões, em todas as terras: a intellectualidade pretende dominar, quer subir e governar o menos intruido, sabendo geralmente que aquelle quer mandar, ergue ainda mais a cabeça, não se curva; então começa a luta politica, que ahi no interior acaba com brigas e páu, tiros de garrucha e mortes” (Doc. 069 – As margens do Paranapanema [Excursão Realisada no Anno de 1902] publicação Revista do Instituto Historico e Geografico de São Paulo nº 23, 1925: 441-2 – extrato).

Krug, sobre o mesmo assunto, num texto vertido para o alemão:

— “Santa Cruz desfruta da triste fama de ser uma cidade política, aqui pois a política é uma bagunça maior e mais burra que em outros lugares do sagrado Estado de São Paulo, existem dois partidos os jagunços e os pica-paus que brigam sem parar sem que tivesse logicamente algum resultado que poderia ser útil para a cidade e seus habitantes.

Briga pessoal e tudo isso faz com que o bem da cidade e suas pendengas está sendo esquecido completamente, só intrigas e chicanas estão na ordem do dia.

Infelizmente Santa Cruz não está sozinha com a sua política municipal, nos temos muitas pequenas cidades que podem agradecer seus políticos de chegar a lugar nenhum. Os políticos municipais infelizmente são sem exceção tão ignorantes que eles efetivamente não são capazes de diferenciar o certo do errado e por causa disso arruína tudo em vez de juntar as forças e iniciar progressos práticos. Se os jagunços ou os pica-paus tem razão objetivamente isto não é para mim diferenciar.

Praticamente os dois definitivamente não tem razão. Eles deviam ser sensatos antes de ter razão”.

— (Doc. 070 – Í Deíne Reise nach dem Salto Grande Don Paranapanema, von Edmundo Krug, assunto de 1902 publicado em 1908, texto em alemão extraído com a tradução do texto pelo Sr. Christoph Donsbach, por gentileza do Vereador santacruzense Rui Sérgio dos Reis, janeiro de 2011).

 

Matéria jornalística local de 1903, pró ao falecido Botelho, informava aquela eleição de 16 de dezembro de 1901 “que deu-se neste Estado e com especialidade nesta comarca a maior e mais cynica bacchanal política de que se tem memória”. Prosseguia a notícia: 

—”Individuos sem escrupulos repellidos pela opinião publica ou por todos aquelles que têm a felicidade de conhecel-os, tendo um estado maior composto de assassinos, resolveram, como meio de vida, se transformar da noite para o dia em chefes supremos desta terra, como, de facto, se transformaram. Uma vez feitos chefes, precisaram ganhar as eleições do dia 16: d’ahi a soldadesca encarabinada e a capangada engarruchada; d’ahi o atenttado barbaro, selvagem, escandaloso, contra o direito de voto no aludido dia; d’ahi, a espoliação de que foi victima o eleitorado desta comarca.” (Correio do Sertão, 28/11/1903: 2).

Vitorioso, o grupo Costa Junior/Abreu Sodré encerrou o mando político do coronel Botelho, e, este, acusado de improbidade administrativa e desvios de recursos públicos em proveito próprio e de comparsas, restando-lhe possível prisão, resolveu cessar isto à sua maneira, tentando o suicídio aos 02 com óbito consequente aos 08 de julho de 1902.

— O semanário fechou as portas e os maquinários postos num carro de boi, com destino a Avaré; nem o uso do trem lhe foi permitido.

 

Pimentel assumiu a chefia da dissidência perrepista, investindo contra o juiz Augusto José da Costa, irmão e genro do Costa Junior, conseguindo seu afastamento do judiciário e mudança de domicílio, para prosseguir luta política contra Costa Junior e Abreu Sodré, apoiando-se no então jovem Antonio Evangelista da Silva, o Tonico Lista, para o comando armado perrepista, praticante de atentados em série, alguns fatídicos, contra adversários políticos, espalhando medo e terror em toda a comarca, até a queda dos Costa Junior/Abreu Sodré, quatro anos depois, para assumir o diretório perrepista local com a imposição de nova ordem política regional. Noticiários estampavam o dr. Pimentel como prestigioso chefe político com reconhecimento oficial da Comissão Central do Partido (Correio Paulistano, 17/04/1906: 1). 

Nomes importantes da sociedade santa-cruzense, capitalistas, fazendeiros e profissionais liberais, temerosos de uma política odienta, deixaram o município; Santa Cruz não era lugar seguro para se viver ou nela fazer vida.

Sem nenhuma contrariedade o prestigioso chefe político Olympio Pimentel fez-se indicado pela Comissão Regional do PRP – 5º Distrito, ao cargo de deputado estadual e eleito para a legislatura de 1910 a 1912, considerado um dos melhores e mais ativos parlamentares da época, em pró a sociedade latifundiária, nome garantido para a reeleição.

Na convenção perrepista do 5º distrito eleitoral paulista, realizada na sede regional de Botucatu aos 14 de janeiro de 1913, presentes vinte e quatro delegados partidários municipais, sob a presidência do dr. José Cesario da Silva Bastos, membro da Comissão Diretora do Partido Republicano.

O coronel ‘santa-cruzense’ Antonio Evangelista da Silva – Tonico Lista, presente, na ‘Prévia Eleitoral do PRP pelo 5º Distrito’, foi o convidado para secretariar da sessão, juntamente com seu homólogo, Joaquim Thimoteo, conforme publicação no jornal Correio Paulistano, edição de 15 de janeiro de 1913, à página 13, algo incomum dois secretários para um mesmo evento, talvez, nisto, alguma razão. 

Igual a outras vezes para tais finalidades, a reunião certamente seria tranquila, os representantes municipais lá reunidos indicariam os seus cinco candidatos a deputado estadual, talvez algumas discussões antes do consenso, e os nomes escolhidos seriam encaminhados à apreciação da Comissão Diretora, podendo ou não haver algum tipo de veto, algo raro. 

No entanto, naquele 14 de janeiro de 1913 se fez o contrário, com o coronel Francisco da Cunha Bueno trazendo da Comissão Diretora, já pronto, o rol dos indicados candidatos à assembleia legislativa pelo 5º Distrito; ainda mais, sugerindo aos convencionais aprovação dos nomes por aclamação, imposição de cima para baixo sem discussões, com os nomes já definidos: dr. José de Freitas Valle – nascido em Ilha Bela, residente e domiciliado em São Paulo; coronel Amando de Barros, piracicabano radicado em Botucatu; dr. Ataliba Leonel, de Piraju; dr. Gabriel de Oliveira Rocha, lençoense paulista; e o itapevense coronel Acacio Piedade.

Os candidatos podiam participar das eleições por um distrito, ou mais de um visando ‘cobertura de votos faltantes para um número a ser atingido’, todavia respeitada, sempre, a indicação a partir da regional perrepista, e não como estava a ocorrer, estranhamente, com a ausência do nome do ‘santa-cruzense’ Olympio Rodrigues Pimentel, um dos mais atuantes deputados na legislatura de 1910 a 1912.

A partir da constatação do faltante Pimentel, o coronel Antonio Evangelista da Silva, no uso da palavra, afirmou “que o seu desejo era votar no nome do dr. Olympio Pimentel, o que não fez em obediência á disciplina partidária. O mesmo delegado pediu que constasse da acta a sua declaração”. 

Com certeza a manifestação do Tonico Lista não teve a blandícia das palavras registradas, não era este o seu estilo, a deduzir, aí, a necessária convocação do coronel Joaquim Thimoteo para secretariar a mesa e encerrar os registros em ata, afinal, por qual razão dois secretários para um mesmo evento? 

Havia algo de alheio, pois, Olympio como deputado na legislatura passada deveria ser o candidato natural. Se os membros convencionais sabiam as razões, nada foi escrito em ata nem publicado pela imprensa, exceto a declaração de Lista. 

Pimentel, magoado, resignou-se da presidência do diretório municipal perrepista e dos cargos de vereador e prefeito, em Santa Cruz do Rio Pardo, abandonando a carreira política, justificando escritório de advocacia em sociedade com o dr. João Álvares Rubião Junior, na capital do estado, para se tornar um dos mais importantes advogados de São Paulo. 

Oito anos após os fatos, publicação pelo diário ‘O Combate’, de 19 de março de 1921, entre outros assuntos políticos santa-cruzenses-do-rio-pardo, revelava os acontecimentos de 1913: 

— “Quando subiu ao poder o conselheiro Rodrigues Alves, cuja familia foi sempre, na zona norte do Estado, antagonicamente á do dr. Olympio Pimentel, — cahiu este, perdendo a cadeira de deputado, a presidência do diretório e a prefeitura municipal, continuando a ser fazendeiro em Santa Cruz do Rio Pardo, mas advogado em S. Paulo, onde iniciou a nova carreira com Rubião Junior, seu grande amigo.”

A retirada do dr. Olympio Rodrigues Pimentel do cenário político santa-cruzense, em 1913, daria supremacia ao coronel Antonio Evangelista da Silva, para se tornar, então, ‘o prestigioso chefe político’, por nove anos, até sua morte em 1922.

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COMENTÁRIOS:

S
SERGIO CARVALHO GARCIA
Parabéns aos historiadores, essas histórias da vida real, nos prende a atenção.

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