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O hediondo crime da ‘mãozinha’

O hediondo crime da ‘mãozinha’

Dr. Valdomiro Silveira, um dos maiores vultos literatos do Brasil, dono de ilustre biografia como membro da Academia Santista e Paulista de Letras, além de sua dedicação ao direito e à política, situações lembradas pelos críticos e especialistas.

Valdomiro teve infância e adolescência vividas em Casa Branca – SP, segundo filho dos oito nascidos do advogado e promotor público dr. João Batista da Silveira e dona Cristina da Silveira.

Nos passos do pai, Valdomiro bacharelou-se em Direito pela Faculdade de São Paulo, no ano de 1895 e, de imediato, ingressou no Ministério Público sendo nomeado para Santa Cruz do Rio Pardo, onde trabalhou durante uma década, de 1895 a 1905, consoante seus biógrafos, presente no período marcado por acontecimento brutal aa Comarca, assim descrito sua mulher:

—”(…).

Em fins do século passado, dera-se um assassínio espantoso em Santa Cruz do Rio Pardo, comarca da qual Valdomiro era promotor público. Santa Cruz, nessa época, ainda era sertão, e a lei quem a fazia era o cano das garruchas. Certa rica fazendeira, descobrindo que era traída, mandou matar por capangas a amante do marido e o filhinho de ambos, exigindo que lhe trouxessem a mãozinha da criança como prova de que o serviço fora executado.

Processada e levada a júri, essa mulher mandou oferecer terras e muito dinheiro a Valdomiro para que não a acusasse, ou pelo menos para que não lhe fizesse carga durante o julgamento. Como Valdomiro não aceitasse, a assassina mandou ameaçá-lo de morte caso não cumprisse suas determinações. Tratava-se de uma mulher poderosíssima, não só em fortuna como principalmente pela sua influência política, mas Valdomiro não se deixou intimidar e fêz uma acusação bastante severa. Isso não impediu que a fazendeira fosse absolvida e que, depois de ser posta em liberdade, procurasse tornar impossível a permanência de Valdomiro em Santa Cruz. Desgostoso, desiludido com tamanha falta de dignidade, Valdomiro teve de retornar para junto de seus pais, em Casa Branca.” (Maria Isabel Silveira, Isabel Quis Valdomiro, 1962: 19).

Não se tratou de fabulação e a verdade foi muito mais cruel: entregaram à mandante as mãozinhas e o coração da criança, que foram pregados na parede do quarto em que ela, a assassina, dormia com o marido. Pureza, a mãe da criança executada não foi morta pelos assassinos.

Os envolvidos têm nomes revelados. Retentivas regionais de 1896/1897 indicam o acontecimento, conhecido como o ‘Crime da Mãozinha’, cometido ao mando de Marianna Amélia Freitas Pinto Mello, mulher do português José Gonçalves da Silva, e mãe, dentre outros filhos, do coronel Francisco Clementino Gonçalves da Silva, mais conhecido por Coronel Clementino Gonçalves, homenageado com o nome de uma das avenidas em Santa Cruz do Rio Pardo.

  • A mandante, milionária e descendente das ricas famílias Correa de Mello e Freitas Pinto, era sogra de Maria Perpétua da Piedade, filha do coronel e deputado Emygdio José da Piedade, casada com o Clementino.

Marianna Amélia tinha influência, poder e dinheiro como virtudes suficientes para satisfações de todas as suas vontades, até para sobrepor-se ao próprio marido, este já cansado de tantos mandos e desmandos da mulher. 

Das humilhações, talvez carências e insatisfações, ou, em busca de aventura, corroborada ou não por algum amigo, José Gonçalves ajeitou-se com uma amante, linda jovem afrodescendente, conhecida por Pureza, e, deste relacionamento, nascido um filho, despertando a ira e sanha assassina da mulher traída. 

O assunto foi noticiado na grande imprensa nacional, da época, ganhando forma horripilante. O diário carioca, ‘O Tempo’ (30/12/1893: 1), noticiou o crime, o valor da empreitada e o nome do assassino, Antonio Pedro de Camargo.

O jornal paulistano, ‘O Estado de São Paulo’, mais contundente, vinculou o executor ao grupo “Contingente da Reacção”, um partido político/religioso regional sublevador da ordem pública, em Santa Cruz do Rio Pardo, comandado pelo místico Francisco Garcia – Chico Gago, o autointitulado ‘São Sebastião’ ou ‘Missionário de Cristo’, com multidão de seguidores. 

—”É o caso que uma senhora de Santa Cruz, suspeitando que uma criança dalli fosse filha de seu marido com uma outra mulher, tratou por isso de fazer com que a mesma criança desapparecesse do numero dos vivos. Desta execranda incumbencia foi encarregado o citado individuo [Antonio Pedro Camargo], o qual, como garantia do seu acto criminoso devia entregar a mandante do assassinato os punhos decepados da criança morta!

Ainda mais: a sanguinaria mulher não se contentava com os punhos decepados.

Disse ainda ao mandatario que desejava vêr – para mais segurança, de que suas ordens foram cumpridas, – o coração da criança que ateava em seu cerebro desvairado tanta vingança e tanto ódio!

E para se avaliar dos sentimentos ferinos desta mulher, basta dizer que ella cravou na parede de sua casa os punhos e o coração da criança assassinada, afim de que seu marido, ao voltar da rua, pudesse observar de visu o resultado, do producto do seu nefando crime!

Esta mulher não foi presa, consta-nos que por ter desapparecido na occasião em que dahi se approximava a força.” (Estado de S. Paulo, 27/12/1893: 2).

— A sede do “Contingente da Reacção” ficava na beira do Turvo, no lugar conhecido como Água do Beato, também conhecido como Pontesinhas pelas passagens sobre regos d’água que corriam em direção ao mesmo Turvo.

Apesar da ocorrência do ‘Crime da Mãozinha’ ser verdadeira e chocado o país, a versão do promotor público Valdomiro Silveira, pelos compilados da família, não se sustenta quanto a sua intrepidez, ou mesmo a honra, diante do poderio da mulher assassina ou mandante, refugiada no Estado do Paraná, por quatro anos, para retornar em 1897 e enfrentar o processo, subornando ou feito correr o promotor público da comarca para, enfim, ser absolvida em 1900.

Aí entra, historicamente, o promotor público, dr. Valdomiro Silveira, que exatamente em 1897 abandonou a cidade, tirando férias e, em seguida, sua exoneração do cargo, a pedido, a contar de 13 de janeiro de 1898. Não resistira às tentações propostas, conforme tradições orais de antigas famílias, embora nada se prove contra o preclaro representante da promotoria pública, senão que o julgamento em 1900, contradita aquilo que lhe diz respeito nos acontecimentos:

—”Valdomiro não se deixou intimidar e fêz uma acusação bastante severa. Isso não impediu que a fazendeira fosse absolvida e que, depois de ser posta em liberdade, procurasse tornar impossível a permanência de Valdomiro em Santa Cruz. Desgostoso, desiludido com tamanha falta de dignidade, Valdomiro teve de retornar para junto de seus pais, em Casa Branca.” (Silveira, 1962: 19).

Valdomiro não fez nada; alguns estudiosos interpretam errônea ou tendenciosamente a informação que ele teria permanecido em Santa Cruz do Rio Pardo até 1905, beneficiando-o, assim, na honradez pretendida pela versão familiar do ‘Crime da Mãozinha’, mas isto não corresponde à verdade. 

A mandante do crime tornou-se amargurada apegando-se à bebida, e, em certa feita, quando dormia em sua rede, não percebeu que esbarrara no lampião próximo, provocando incêndio na casa que lhe causou a morte.

O incêndio e a morte de Marianna são confirmados conforme o apresentado, mas o pai da criança, por outras fontes familiares, seria mesmo o marido da mandante e não o filho. Deste ou daquele, o crime figura entre os mais execráveis do Brasil

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