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Padre João Domingos Figueira – III: As mulheres mães dos tutelados

  1. I) Benvinda Belmira Carolina do Espírito Santo

Benvinda Belmira Carolina do Espírito Santo é mencionada aos 14 de abril de 1846, solteira, no batizado de ‘Jeremias, filho de Batistinha [Batistina], escrava do padre batizador João Domingos Figueira’ (Cabo Verde – MG, Batismos, 1809/1859: 42). Praticamente cinco anos depois, aos 23 de março de 1851, a mesma Benvinda Belmira Carolina do Espírito Santo, ainda solteira, aparece partícipe no batismo de Miguel, filho de escravos, em ato firmado pelo padre Figueira (Cabo Verde – MG, Batismos, 1809/1859: 52).

No mesmo período, também em Cabo Verde, entre os diversos nascimentos registrados, duas crianças irmãs, brancas, vieram à luz em anos diferentes, a Benvinda Carolina do Espírito Santo e o João Bonifacio Figueira, sem registros de batismos até o momento localizados, além de desconhecidas as identidades da mãe e do pai. Pouco depois, em iguais condições de ignorâncias, nasceria uma terceira irmã, por nome Marianna Rosa do Amor Divino, e o reverendo padre João Domingos Figueira tutelou-os todos, sem o usual apontamento de enjeitados ou expostos – não há registro disto, e lhes deu um lar, contudo, a manter oculto o nome da mãe.

Bem observado, não se trata de fabulação presumida e sim a múltipla atestação de fatos, que a Benvinda Belmira Carolina do Espírito Santo, inegavelmente pessoa das relações do padre João Domingos Figueira, estava presente em Cabo Verde, entre os anos de 1845 a 1852, período marcado pelos nascimentos das três crianças, das quais, a uma delas dado o seu nome praticamente completo, com certeza a não se tratar de simples homenagem, assim como o nome João bastante sugestivo para se lembrar do vigário, um amor divino em símbolo de rosa a uni-los na pessoa de Marianna.

  1. II) Batistina

Batistina, também grafado Batistinha, desconhecido o nome completo, escrava do padre João Domingos Figueira, em Cabo Verde – MG, surge na história aos 14 de abril de 1846, por ocasião do batizado do seu filho Jeremias, nascido no limbo da escravidão, de pai incógnito, desde o nascimento inscrito no rol de escravos do reverendo padre.

Uma segunda vez aparece a Batistina, agora em Santa Cruz do Rio Pardo, aos 25 de novembro de 1862, no batizado do filho Antonio, pardo, de pai não revelado, o filho livre do cativeiro embora a mãe continuasse na servidão ao padre João Domingos Figueira.

Nos dezesseis anos que separam Jeremias do Antonio, outras duas crianças conhecidas nasceram de Batistina: a Maria Innocencia e o José, ambos pardos, pai não informado, livres do cativeiro.

Em Santa Cruz do Rio Pardo é possível acompanhar os quatro irmãos: Jeremias – cativo e os libertos Maria Innocencia, José e Antonio.

– Jeremias Baptista Figueira

No ano de 1875, em Santa Cruz do Rio Pardo, consta o citado Jeremias, juntamente com sua mulher Maria Magdalena, escravos do padre João Domingos Figueira, identificados no registro de batismo do filho Cyrillo, aos 11 de fevereiro daquele ano (Santa Cruz do Rio Pardo, 1873/1896: 39).

Em 1878 Jeremias e Maria Magdalena estão presentes, como escravos, no batizado da filha Maria aos 28 de junho de 1878 (Santa Cruz do Rio Pardo, 1873/1896: 42).

Os irmãos Cyrillo e Maria nasceram libertos, por força da Lei de Ventre Livre, de 28 de setembro de 1871, que determinava livres os filhos de escravizadas.

Jeremias, no ano de 1880, ainda escravo, é padrinho de batismo de Rozalina, aos 17 de junho de 1880, liberta, filha de pais escravos do padre João Domingos Figueira (Santa Cruz do Rio Pardo, 1873/1896: 44), quando o padre já falecido desde 1878.

Após a morte do padre Figueira, Jeremias assumiu o nome Baptista Figueira, ou Figueira Baptista, sendo o Figueira por assinalação escrava, e seus descendentes de segunda e terceira geração são identificados ‘pretos’.

– Maria Innocencia da Conceição

Não informado onde nasceu, qual o nome da mãe e do pai, mas ela consta no rol de herdeiros legatários do padre João Domingos Figueira, e, seria filha da Batistina.

Maria Innocencia, aos 25 de novembro de 1862, é madrinha de batismo de uma escrava do padre João Domingos Figueira, em São João de São Domingos (Santa Cruz do Rio Pardo, 1859/879: 191), mesma data do assento batismal de seu irmão Antonio.

Aos 16 de março de 1874 Maria Innocencia e seu marido José Joaquim Gomes, estão relacionados padrinhos no batizado de Marianna (Santa Cruz do Rio Pardo, 1872/1879: 31). Meses depois o casal teve o filho José, batizado em 13 de setembro de 1874, idade de 12 dias (Santa Cruz do Rio Pardo, 1872/1879: 40); quase dois anos à frente, aos 05 de agosto de 1876, acontece o batismo do filho João (Santa Cruz do Rio Pardo, 1872/1879: 67).

—Ignorado quando Maria Innocencia se casou com José Joaquim Gomes, porém, é conhecida a presença dele no sertão do Pardo santa-cruzense num batizado ocorrido em 24 de setembro de 1863, como padrinho (Santa Cruz do Rio Pardo, 1859/1879: 52).

– José Chrysostomo ou Chrysante Figueira

José Chrysostomo Figueira, num documento que o coloca herdeiro legatário do padre João Domingos Figueira, tem o nome de José Chrysante (DOSP, 19/03/1898: 23.174).

Documentos informam José casado com Umbelina Rosa de Jesus, no batizado da filha Virgilina, aos 27 de março de 1878 (Santa Cruz do Rio Pardo, Batismos, Livro 1872/1879: 89-90). Viúvo, consorciou-se em segunda núpcias com Amélia Maria de Lima (Santa Cruz do Rio Pardo, Matrimônio, Livro 1893/1900: 66).

O sobrenome adotivo, ‘Baptista’, aponta-o filho da Batistina, por supedâneo o irmão escravizado Jeremias, filho da mesma mãe, que viria adotar o igual Baptista em homenagem à genitora.

– Antonio Emilio Rodrigues

O batismo de Antonio, aos 25 de novembro de 1862, revela-o nascido de Batistina e de pai incógnito (SCR. Pardo, Livro de Batismos 1859/1879: 191), a mãe identificada no assento religioso como escrava do padre João Domingos Figueira, mas não o filho, quando ainda não prevalecia a ‘Lei do Ventre Livre, de 28/09/1871’, a indicar, não obrigatoriamente, pai branco dono do plantel.

Na época do nascimento e batismo de Antonio o padre João Domingos Figueira encontrava-se em Caconde, para onde designado vigário encomendado e lá permaneceria até 1864; levara consigo parte de sua escravaria, deixando a outra em Santa Cruz do Rio Pardo para os cuidados de sua fazenda e moradia, e, entre estes, ficou a Batistina, grávida do filho Antonio. A ausência do padre Figueira motivara a mãe batizar o filho nascido.

Documentos posteriores revelariam o nome completo do filho de Batistina, Antonio Emílio Rodrigues, sendo ele colocado no rol dos herdeiros do padre Figueira, mudando seu nome, após a morte do pai, para Antonio Batista Figueira.

Antonio, por ter nascido em Santa Cruz do Rio Pardo e em época mais recente, facilitou as pesquisas, sendo possível saber de sua viuvez, por falecimento de sua primeira mulher, Maria da Conceição. Antonio casou-se em segunda núpcias, aos 03 de fevereiro de 1894, com Gabriella Sabina [ou Joaquina] de Jesus, filha de Manoel Antonio de Faria e Joaquina Sabina de Jesus (Santa Cruz do Rio Pardo, Livro 1893/1900: 5).

—Antonio sobreviveu sua segunda mulher, Gabriella, morta aos 21 e sepultada aos 22 de junho de 1926, idade de 48 anos (Prefeitura Municipal – Cadastro/Óbitos 09/10/1918 – 23/08/1989: 2.678); o seu óbito ocorreu aos 30 de outubro de 1928, filho de pais ignorados (Cartório de Registro Civil de Santa Cruz do Rio Pardo, Livro C-18, fls. 188, nº 283). São notados seus filhos, como exemplos, o João Baptista Figueira, falecido aos 13 e sepultado aos 14 de julho de 1950, idade de 65 anos (Prefeitura Municipal – Cadastro/Óbitos 09/10/1918 – 23/08/1989: 16.554), portanto do primeiro matrimônio do pai, e o José Baptista Figueira, que nasceu do segundo leito nupcial, aos 05 de fevereiro de 1894 – civilmente registrado aos 22/10/1928 em Santa Cruz do Rio Pardo (Cartório do Registro Civil, Livro A-32, fls. 7, nº 628), sem identificações dos avós paternos.

Os irmãos José, Antonio e Maria, são identificados pardos, assim como seus descendentes, enquanto os filhos de Jeremias com mulher negra, mencionados pretos. Nenhum deles teve destaques na sociedade santa-cruzense.

Um absurdo o padre Figueira relacionar-se com Batistina, ter filhos com ela e, ainda assim, não a tornar liberta, à mesma maneira, estupidez o padre manter cativo o irmão materno de seus filhos. 

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