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Todos os caminhos levavam ao Peru; E um deles passava em Santa Cruz

A estrada Peabiru em algum tempo antes da oficialidade regional

Poucos ouviram dizer, muitos não, que no atual município de Santa Cruz do Rio Pardo passava um trecho deslocado da vereda pré-cabraliana Peabiru, vocábulo designativo para antigas trilhas ou feixes de caminhos indígenas, por terra e rios, às vezes interligados, com lugar de partida e destino determinado. 

Palavra de origem incerta, ‘Peabiru’ teria o significado, em tupi, de ‘Pe = caminho e Abyru = grama amassada, gramado’; ou, como pretendem alguns, ‘Pe ou Pea = Caminho e Biru’ = o atual Peru, daí o significado ‘Caminho para o Biru’ como antigamente conhecido o atual Peru.

São diversos os caminhos ‘Peabiru’ no interior brasileiro, geralmente trilhas ou trilheiras, dois deles, no entanto, destacados como obras de engenharia, construídos por volta do ano de 1.350, empedrados e cobertos de gramíneas especiais que impediam crescimento de árvores, arbustos e ervas daninhas; além de pontes, aterramentos e drenagens de terrenos, cuja extensão, cada um deles, com mais ou menos duzentas léguas e largueza de oito palmos, algo absurdamente em torno de 1.320 quilômetros por 1,76 metros, apenas em solo brasileiro.  

Um desses caminhos iniciava-se ao norte da Ilha de [Santa] Catarina – SC, rumo a Ponta Grossa – PR, para margear o rio Iguaçu, pela direita, até a foz, conforme relatos da expedição de Alejo Garcia entre 1521/1526, aqui desprezados detalhes do percurso.

O segundo caminho originava-se em São Vicente, litoral paulista, subia a serra para chegar ao Planalto Piratininga e seguir adiante, passando pelos atuais municípios de São Paulo e Sorocaba, até o pé da serra em Botucatu, de onde:

 

“(…) se dirigia ao vilarejo que tem ainda o malsoante nome de Avaré – [Abaré] (o desagradável sobrenome do padre Zumé), a duzentos e setenta quilômetros, aproximadamente, ao noroeste. De lá ele obliquava em direção ao oeste, depois ao sudoeste, passava pelas atuais cidades de Ourinhos, onde transpunha o Paranapané (hoje Paranapanema), de Cambaré e Procópio, atravessava o rio Tibagi, atingia Londrina, depois, por Apucarana, após ter transposto o Huybay (mais corretamente Ivaí), burgo que se chama ainda hoje Peabiru. Descia em seguida em direção sul-sudoeste [margeando o rio Paraná] até a embocadura do Iguaçu. Ou seja por alto, um percurso de mil quilometros (…)” (Jean-Claude Valla, O Segredo dos Incas, 1978: 90).

 

As fortes quedas d’água e correntezas não favoreciam as navegações pelo Rio Paraná, e então, por terra, se fazia este o melhor e confiável caminho até às proximidades do Iguaçu, onde o encontro com a ‘estrada catarinense’. Ambas as vias se uniam em Iguaçu – PR para a transposição do rio Paraná, passando pelas terras do Paraguai e chegar aos Andes – localidade de Cuzco [Bolívia], o coração do Império Andino, com ramais para as costas do Pacífico em Peru e Equador. 

Desconhecidos os nomes dos primeiros portugueses indesejados pela corte e postos no Brasil, também não se sabe quando tais caminhos pré-cabralianos foram percorridos pela primeira vez, nem qual o tamanho de alguma possível incursão inaugural, mas a mais importante e longa viagem certamente ocorreu entre 1502/1513, a partir de São Vicente, para se chegar aos Andes. Dessa viagem é o que informa o médico e renomado historiador português Jayme Zuzarte Cortesão (1884-1960), ao mencionar que o galo trazido com outras espécies animais da Europa para Cananéia, em 1502, já no ano de 1513 aparecia na corte inca, levado numa expedição via Peabiru, causando pasmo tanto que o futuro governante adotaria o nome Atahuallpa, isto é, Galo. “Esta rapidez na disseminação dum elemento cultural prova quanto eram rápidas e ativas as comunicações através do continente” (Apud Hernani Donato, Peabiru, 1985: 11).

 

—Os autores não desprezam possibilidades que tal ave tenha chegado ao império inca pelo Pacífico, por volta de 1513, quando Vasco Nuñez de Balboa aportou pela primeira vez às costas do Pacífico Sul, e o galo, se elemento naquela expedição, poderia ter sido introduzido em terras equatorianas por algum batedor indígena e, de pronto, levado às mãos dos incas, cujo império então se estendia até o Equador.

 

Respeitado o Cortesão, tal viagem bem pode ter sido a primeira passagem do homem branco pelo Vale do Paranapanema, mas os registros são frágeis. Com segurança histórica, as “primeiras referências ao encontro de riquezas datam de 1526, quando Aleixo Garcia, saindo de São Vicente em companhia de três ou cinco portugueses, à frente de um exército de índios, pelo rio Paraná, alcançou o Paraguai, chegou ao Peru” (Alfredo Gomes, O Brasil antes da Independência, Administração Paulista – São Paulo, Volume XXIII, setembro de 1972: 59), trazendo, além dos produtos andinos, milhares de índios aprisionados para escravização. 

O entradista Antonio Bicudo no uso da Peabiru, em 1620, optou por subir a Serra de Botucatu e atingir as cabeceiras do Rio Pardo, para reconhecimento territorial e a preação indígena, com as primeiras descrições dos campos e matas entre os rios Guareí, Paranapanema, Tietê, morros da Serra de Botucatu – zona sudoeste e as cabeceiras do rio Pardo. Oficialmente, tais pontos indicativos entraram nas cartas geográficas como referências para as entradas pelos sertões (Apud Bicudo Gilson, Resumo Histórico de Botucatu, 2009: 1/5). 

Desde então abriu-se uma trilha pelo o curso do Pardo e o espigão Pardo/Turvo por referências, para se chegar ao Paranapanema, transpondo o Turvo num baixio nas proximidades do despejo do Alambari, na atual região do distrito de Caporanga – município de Santa Cruz do Rio Pardo, trecho de extrema valia para as entradas e bandeiras no aprisionamento de índios para a escravização.

O estudioso jesuíta Aluísio de Almeida, pseudônimo do monsenhor Luiz Castanho de Almeida, explica melhor o curso deslocado da Peabiru, em Botucatu:

—”A tal estrada subiu a serra, ganhou as cabeceiras do Pardo (Pardinho) antigo Espírito Santo do rio Pardo e desceu aquele rio até as alturas de Santa Cruz do rio Pardo, donde passou para o afluente Turvo e saiu nos Campos Novos do Paranapanema (nome mais novo)”- (O Vale do Paranapanema, Revista do Instituto Histórico e Geográfico – RJ, Volume 247 – abril/junho de 1960: 41), sem prejuízos ao trecho prosseguinte ao Salto das Canoas (Paranan-Itu), desde onde possível a navegabilidade do Paranapanema em direção às Reduções Jesuíticas (1608/1628), e ao Rio Paraná.

 

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