A Santa Cruz dos anos de 1860 tinha problemas em receber expedientes oficiais – atos de governo, documentos pessoais ou de informalidades entre pessoas. Os serviços eram prestados por tropeiros, mascates ou algum viajante, sem a obrigação formal de resultados.
Com a elevação do lugar a freguesia, em 1872, estafetas particulares ofereciam serviços para o leva e traz de correspondências até Botucatu.
Somente no ano de 1876, já na condição de vila, Santa Cruz teve sua primeira agência, com serviços de transporte do correio até São José do Rio Novo [Campos Novos Paulista].
Antigo mapa santa-cruzense para o ‘Patrimônio de Santo Antonio’, em 1900, localiza o correio onde a atual rua Duque de Caxias, sem nenhum outro endereço anterior conhecido.
A primeira nomeação para agente do correio local recaiu, interinamente, sobre o coronel Emygdio José da Piedade (Correio Paulistano, 27/09/1877: 1), demitido por conveniência política em 1879, substituído pelo chefe local do partido liberal, coronel Joaquim José Botelho (Correio Paulistano, 02/10/1879: 2).
Em 1881, por Ato da Presidência da Província de São Paulo em 30 de junho e 1º de julho, declarou-se sem efeito a nomeação de Francisco Antonio de Castro para agente do correio local, em razão de sua escolha para o cargo de delegado de polícia, enquanto para o cargo nomeado José Sebastião de Almeida (Correio Paulistano, 06/07/1881: 2). A agência local apresentava dificuldades para entregas de malas, dependente do tempo e, às vezes, condicionado aos mandos e desmandos políticos em passar ou não pelo lugar, e até o delegado de polícia, Francisco Antonio de Castro, numa das determinações declarou suprimida a agência em Santa Cruz (Correio Paulistano, 24/12/1881: 12), situação depois resolvida pelo ‘Correio Geral – Administração São Paulo’.
Os problemas do correio vinham desde sua instalação, motivos de constantes reclamações, diante dos atrasos das correspondências, mesmo com instalações de duas linhas, a partir de Botucatu, uma por atual Cerqueira Cesar – antes Três Ranchos, e outra por Lençóis Paulista, sem critérios de seleção. Por exemplo, a edição de um jornal de segunda feira, por Lençóis, chegava na quinta-feira, enquanto a edição de terça, por Cerqueira Cesar, estava em Santa Cruz na quarta-feira. Mas, as distribuições eram aleatórias.
Por edital de outubro de 1891 o ‘Correio Geral – Administração de São Paulo’ anunciava recebimento de proposta para serviços de entregas de postagens – terceirização para condução de malas, estando previstas para Santa Cruz cinco vezes ao mês, no exercício de 1892 (DOSP, 20/10/1891: 5-6).
Quase três décadas depois de sua instalação, os serviços de correios continuavam ineficientes, com contínuos desvios, perdas e devoluções de correspondências, gerando reclamações pela imprensa, inclusive de prevaricações do agente privilegiando pessoas em detrimento a outras.
Frediano Colli, segundo uma das denúncias, ao receber as malas do correio, abriu-as para entregar somente às pessoas de maior influência, e as demais pessoas procurar pelas suas correspondências no dia seguinte. Segundo nota pela imprensa, o agente sabia não haver expediente no dia seguinte, e tratou com deselegância aqueles que não foram atendidos (Correio do Sertão, 24/05/1902: 2).
O agente Colli, comerciante e líder da colônia italiana de sua época, posteriormente foi homenageado emprestando seu nome a uma das ruas na cidade.
Nos anos de 1940 o correio funcionava num prédio à esquina das ruas Conselheiro Dantas e Benjamin Constant, e, em 1949, pretendendo prédio próprio, o prefeito Lucio Casanova Neto, pelo decreto nº 21, de 15 de julho, desapropriou terreno da família Barbosa (Adelaide, Cândido, Noêmia Carmem e Hercília e/ou sucessores) nas medidas de 25 metros de frente por 35 de fundos, na esquina da atual rua Farmacêutico Alziro de Souza Santos – defronte à praça Deputado Leônidas Camarinha, com a rua ‘Coronel Julio Marcondes Salgado’, antiga rua Joaquim Manoel de Andrade, conforme mencionado expediente.
O terreno foi doado ao governo federal para a construção de edifício para instalação da agência de serviços do ‘Departamento de Correio e Telégrafos – DCT’, autarquia que se tornou ‘Empresa de Correios e Telégrafos – ECT’ em 20 de março de 1969. A construção ficou aos encargos profissionais do engenheiro José Carlos Nascimento Camarinha, sendo o engenheiro Píndaro Camarinha, chefe do serviço de materiais dos correios e telégrafos, e Edie Galesso o diretor do DCT regional de Bauru. Píndaro e José Carlos eram primos e sócios numa construtora responsável por diversas obras públicas relacionadas com as agências postais telegráficas, sob as suspeições de fraudes em licitações, desvios de verba pública e materiais entre outros ilícitos relacionados. O novo edifício foi concluído e entregue em 1952, no mesmo local onde atualmente instalado – ano referência 2018.
Das suspeições mencionadas às investigações policiais, em 1964 foram presos os engenheiros, José Carlos Nascimento Camarinha – então vice-prefeito em Santa Cruz, e Píndaro Camarinha, “implicados em vultuosos desvios de dinheiro e materiais do DCT. Ambos faziam parte de uma ‘construtora’ de novos prédios de agências postais telegráficas em numerosas cidades do interior” (O Regional, 06/09/1964: 1). Também foi preso, pelo mesmo motivo, o diretor do DCT de Bauru, Edie Galesso.
A título de complementação histórica, em sequência da matéria publicada pelo hebdomadário O Regional, “A reportagem conseguiu apurar também que vários outros elementos ligados à família Camarinha faziam parte da ‘construtora’ de prédios do DCT, estando entre eles o sr. Cyro de Mello Carinha, advogado, e os pedreiros Vicente Ribeiro e Antonio Ribeiro Filho (Bulota)” (O Regional, 06/09/1964: 1), este último uma figura folclórica na sociedade e política santa-cruzense.
José Carlos Nascimento Camarinha estaria, igualmente, implicado em obras de construção de ponte sobre o rio Pardo, ‘Rodovia Engenheiro João Baptista Cabral Rennó’ – a conhecida ‘Rodovia Ipaussu/ Bauru’.
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