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Especial Tonico Lista (parte II): “Chefe político firmado na violência”

Histórico documentado sobre o mais icônico político mandador na comarca santa-cruzense-do-rio-pardo, o famanaz coronel Antonio Evangelista da Silva, alcunhado Tonico Lista, nome amado e odiado tanto que, ainda no ano de 2022, desperta paixões, causa polêmicas.

Lista: chefe político firmado na violência

Nas eleições de 1903 para Deputados Provinciais (Legislatura 1904/1906), o candidato Ataliba Leonel, coronel pirajuense, teve seu nome obstado em Santa Cruz do Rio Pardo, município e comarca, pelo deputado federal dr. Antonio José da Costa Junior, o irmão e genro deste, dr. Augusto José da Costa – juiz de direito, e o outro genro, dr. Francisco de Paula de Abreu Sodré, presidente da Câmara Municipal e chefe político entre os anos de 1902/1907.

Ataliba Leonel

Ataliba Leonel contou, no entanto, com os votos da dissidência perrepista santa-cruzense liderada pelo advogado dr. Olympio Rodrigues Pimentel e o então futuro coronel Antonio Evangelista da Silva, o Tonico Lista, homem de índole violenta e formador de bando, que abertamente desafiava os detentores e correlegionários situacionistas do poder local.

Em 1906 os dissidentes santa-cruzenses representados por: Olympio Rodrigues Pimentel, Antonio Evangelista da Silva, Antonio Sanches Pitaguary, Vicente Finamore e Antonio Martins de Almeida assumiram controle do diretório local do PRP, sob a presidência do primeiro, com reconhecimento oficial da Comissão Central do Partido (Correio Paulistano, 17/04/1906: 1).

Já em janeiro de 1906, o presidente da câmara, Francisco de Paula de Abreu Sodré, o vice-presidente Frederico Carr Ribeiro, o intendente Henrique Hardt e os vereadores Lucio de Oliveira Lima e Pedro Paulo Rodrigues, além de cidadãos ligados ao grupo ‘sodrelista’, denunciaram arbitrariedades do então delegado em exercício, Antonio Evangelista da Silva, intimando eleitores não participarem do pleito de 30 de janeiro de 1906, Senado e a Câmara Federal, sob pena de prisão e espancamento (O Estado de São Paulo, 17/01/1906: 1).

—Costa Junior não se elegeu deputado federal para a legislatura 1906/1908, numa combinação entre Antonio Evangelista da Silva [Tonico Lista] e Ataliba Leonel, todavia assumiu vaga em decorrência da morte do Dr. José Rebouças de Carvalho, numa eleição disputada no 4º Distrito eleitoral.

— Costa Junior e Lista confrontarem-se, uma vez, ameaçando-se e prestes sacarem as armas, apartados por correligionários (Rios, op.cit, 2004: 79).

Situação crítica em Santa Cruz, Costa Junior empenhou-se na eleição de Abreu Sodré para a assembleia legislativa, em 1907, pelo 3º Distrito, porém ambos já não tinham vontades e condições políticas para enfrentamentos ao novo chefe perrepista, Olympio Rodrigues Pimentel e o bando de Tonico Lista.

—Abreu Sodré elegeu-se deputado estadual pelo 3º Distrito, legislatura 1907/1909; e, depois, sucessivamente até a legislatura 1922/1924, porém nenhuma pelo 5º distrito do qual Santa Cruz fazia parte. Sodré deixou o município santa-cruzense no final de 1906, ainda que nele mantendo interesses inclusive políticos findado este em 1907.

Olympio Rodrigues Pimentel ao assumir a direção perrepista em 1906 tornou-se o ‘prestigioso chefe político’, enquanto Lista acercado de jagunços, firmava o poder coronelístico absoluto, capaz de impedir que a oposição tivesse a possibilidade de vencer qualquer pleito, municipal, estadual e federal, “para formar um dos maiores impérios políticos do interior do Estado.” (Rios, 2004: 113), sustentando Olympio Pimentel no poder e capaz de elegê-lo deputado estadual.

Os adversários acusavam Lista de ‘encabrestar votos’, fraudar eleições, eliminar inimigos, promover incêndio numa das salas da delegacia de polícia ou do fórum, mas nada se provava contra ele, e sua fama correu sertão para além das divisas do estado, espécie de lenda viva que tudo podia e fazia contra adversários e inimigos, ao mesmo tempo que protetor dos colaboradores e asseclas.

Alguns historiadores, locais e regionais, entendem Lista detentor do poder político na comarca de Santa Cruz desde 1907, estendido por quinze anos, o que não é verdade. Olympio Pimentel esteve à frente do diretório perrepista santa-cruzense no período de 1906 a 1913, daí sim Lista a assumir a função até 1922.

— As lendas em torno de Lista acresceram-lhe período de mando maior daquele que a história registra, apagando os tempos de Pimentel como líder partidário.

O assassinato do Coronel João Pedro Teixeira Coelho Junior

Tonico Lista, sob a chancela do Diretório Central do Partido, teve o apoio dos coronéis regionais, às exceções dos homólogos Emygdio José da Piedade Filho, em Ilha Grande [Ipaussu], e, do fluminense João Pedro Coelho Junior, em São Pedro do Turvo, que lhe contestavam a liderança imposta. Outras dissidências ocorreriam futuramente.

O primeiro na rota de colisão foi o coronel João Pedro Junior, líder político em São Pedro do Turvo, onde delegado de polícia em 1898 (DOSP 05/03/1898: 1), capitão da Guarda Nacional em 1900 (DOSP, 26/06/1900: 4 [1482]), depois coronel, ocupante, a seu tempo, de cargos nomeados, ou, sobre eles influenciando escolhas, enfrentando e hostilizando adversários, conforme notória a política da época.

— Natural do estado do Rio de Janeiro, família de nome e posses, João Pedro deixou o estado fluminense quando os pais entraram em crise financeira, radicando-se ele em São Pedro do Turvo nos anos de 1890, para fazer vida, fama e fortuna, casando-se com dona Deolinda Roza [Candida] Coelho (29/02/1896), de cujo matrimônio nascidos filhos e filhas, dos quais o Sebastião (02/09/1902 – livro 4 fls 21 – Cartório de Registro Civil de São Pedro do Turvo), que também viria se tornar líder político na localidade, casado com dona Zilda Guimarães nascendo-lhes filhos e filhas, destacado o conhecido médico Clóvis Guimarães Teixeira Coelho, vice e duas vezes prefeito em Santa Cruz do Rio Pardo.

João Pedro intentava-se ‘todo poderoso’ em São Pedro do Turvo, divergente de Lista em 1907, na tentativa de unificar o coronelato da região em torno de seu nome, e foi morto, a mando ou pelo próprio também coronel são-pedrense, Marciano José Ferreira, chefe de uma das frentes armadas de Lista, gesto visto como favor prestado ao primo ‘santa-cruzense’ (Nogueira Cobra, 1923: 253).

— Do coronel Marciano José Ferreira, diz Amador Nogueira Cobra que ele “Viera de S. Simão para o Paranapanema, em companhia de outros parentes, entre os quaes o cel. Antonio Evangelista da Silva, chefe político de prestígio em Santa Cruz do Rio Pardo.” (Nogueira Cobra, 1979: 247, notas 2).

Documentos oficiais diversos informam, pós 1908, dona Deolinda, fazendeira e viúva, cuidando dos interesses e bens familiares, por si e os filhos, como tutora nata (DOSP, 11/08/1909: 2.416), e num futuro distante viria incriminar Lista.

O assassinato do Coronel Emygdio José da Piedade Filho

Em Ilha Grande (Ipaussu) agigantava-se o coronel Emygdio José da Piedade Filho, o Emygdião, como expressiva liderança política a incomodar o prestígio do deputado Ataliba Leonel, eleito em 1907 (Cáceres,1998: 51) além do afrontamento ao poder de Tonico Lista na comarca.

Ignorando os mandatários estabelecidos, Emygdião angariava simpatias e apoios de capitalistas e dos fortes fazendeiros, entre eles o ex-deputado Cleophano Pitaguary e o coronel Cunha Bueno que: “Fez séria oposição ao Cel. Antônio Evangelista da Silva (Tonico Lista), de Santa Cruz do Rio Pardo” (Zizi, 2007: 2).

O Emygdião não satisfeito na contestação mandou invadir as terras de João Custódio, jagunço chefe de uma das frentes armadas do bando de Tonico Lista, que determinou a morte do coronel rival, usando para isto o próprio João Custodio.

Amador Nogueira Cobra, na obra ‘Em um Recanto do Sertão Paulista’, descreve o assassinato ocorrido aos 23 de janeiro de 1908:

—”Piedade viajando pela estrada que passava pelo sitio onde hoje se encontra a villa de Irapé e chegando-se a uma porteira para abril-a, encontrou-a amarrada ao batente; enquanto procurava desatar o nó, recebeu uma bala que lhe atravessou o peito, cahindo morto no mesmo instante.” (Nogueira Cobra, citado, 1923: 185). 

Na fuga os assassinos teriam abandonado botas e chapéu, e o João Custódio, tido mandante do crime, chegou a ser preso, porém logrou fuga para homiziar-se no Estado do Paraná (Correio Paulistano, 24/01/1908: 3). Dias depois o mesmo Custódio, acompanhado do juiz de direito dr. Francisco Cardoso Ribeiro, aos 20 de fevereiro de 1908 apresentou-se às autoridades na comarca de Santa Cruz, para declarações ao delegado de polícia – dr. Américo França Paranhos, e em seguida liberado (Correio Paulistano, 25/02/1908: 3).

Tal sorte de Custódio não ocorreu com Possidonio Gonçalves Machado Filho – vulgo Machadinho e Christiano Rodrigues da Silva, ambos da Guarda Nacional, tidos autores do crime, pronunciados e levados a julgamento, todavia as botas e o chapéu apreendidos não lhes serviram, e assim absolvidos por unanimidade (Rios, op.cit, 2004: 97-101).

— O Correio Paulistano (13/09/1908: 2), sem pormenorizar detalhes, noticiou a absolvição de Machadinho e Christiano: “Foi advogado dos réos o dr. Octaviano de Azevedo, que fez uma defesa brilhante, destruindo completamente a acusação.” 

O crime teria sido a mando de Olympio Rodrigues Pimentel e Tonico Lista (O Rebate, edição 233, “Santa Cruz do Rio Pardo, regimen de terror, políticos assassinos”, 11/03/1908, in Correio Paulistano, 26/03/1908: 2). Suposições.

A verdade sobre a encomenda do assassinato de Emygdião seria revelada apenas em 1921, pelo jagunço Ozório Alves de Lara:

—”Que foi o Coronel Antonio Evangelista da Silva o autor da morte de Emygdio Piedade Filho, mas, que não foi processado porque era chefe, e mandava na Justiça, e, em tempo, os jurados eram seus (…). Não depos isso na ocasião do [facto] por falta de garantias.” (O Estado de São Paulo, 25/08/1921: 10, Defesa do Coronel Antonio Evangelista da Silva, Processo Crime – Caso dos Irmãos Rocha).

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