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Especial Tonico Lista (parte III): “Possível confronto entre os coronéis Lista e Sancho”

Histórico documentado sobre o mais icônico político mandador na comarca santa-cruzense-do-rio-pardo, o famanaz coronel Antonio Evangelista da Silva, alcunhado Tonico Lista, nome amado e odiado tanto que, ainda no ano de 2022, desperta paixões, causa polêmicas.

Possível confronto entre os coronéis ‘Lista e Sancho’ 

Lista enfrentava contratempos em 1911, quando do desaparecimento do primo Marciano José Ferreira, também coronel, provavelmente morto numa trama arquitetada pelo homólogo Francisco Sanches de Figueiredo, o ‘Sancho’, todo poderoso mandador desde Campos Novos Paulista e sertão adiante, crime que perturbou até a capital do país.

Marciano trabalhava como agrimensor de terras no Vale Paranapanema e partes do Peixe, com a ‘técnica em medir espigões secundários como primários’, com isso a determinar a área e deixar terras de fora (Amador Nogueira Cobra, ‘Em um Recanto do Sertão Paulista’, 1923: 249, esclarecendo o método), ou, medir espigões ignorando baixadas, para concluir menor o tamanho da propriedade em questão, embora com mais terras. 

Os serviços de Marciano interessavam ao coronel Sanches e até associaram-se por algum tempo. Não tardou, porém, Sanches desconfiar das intenções de Marciano denunciá-lo às autoridades, nas questões de terras – grilagens, e das ‘dadas‘ contra os indígenas – exterminação étnica, além da escravização de índios, assim, com ou sem razões para as dúvidas, resolveu eliminá-lo.

—Cobra informa que Sanches tinha motivos para matar Marciano, pois que este dissera a terceiros da sua intenção em denunciar o coronel ao governo central, pelas práticas de ‘dadas’ e escravização indígena. (Cobra, op.cit, 1923: 143).

Alheio às tramas, o coronel Marciano foi contratado por Sanches para medir e divisar terras, nos lados do Ribeirão das Anhumas, a última sentinela conhecida do sertão. 

A equipe de Marciano compunha-se de trinta homens, e, na dita empreitada, no ano de 1911, durante as medições, o Marciano retirou-se do campo de visão de seus companheiros – como se adentrasse numa capoeira para alguma necessidade fisiológica, porém não retornou, procurado não foi localizado, senão algumas roupas, armamentos e restos de fogueira recente à maneira dos brancos, mais nada, evidenciando sequestro. No decorrer dos dias e noites, equipes de buscas tentaram localizá-lo, vivo ou morto, sem resultados.

Entre expedições convocadas para localizar o Marciano, constam participantes do ‘Exército Brasileiro e membros da Comissão Rondon’ (Cobra, op.cit, 1923: 145), para depois recorrerem ao suspeito coronel Sanches e seus homens, descritos como:

—”(…) os mais afamados conhecedores do sertão, tendo à frente o cel. Sanches de Figueiredo, Domiciano Luiz da Rosa e tantos outros; sua opinião não podia ser fructo de um erro de observação; conheciam perfeitamente os hábitos dos silvícolas, por ter dirigido campanha contra elles durante muitos annos! Com que fundamento regressou Sanches affirmando que, a seu inimigo Marciano, o indígena capturara e conduzira para aldeia? Ninguem deu credito a essa balela.” (Cobra, op.cit, 1923: 251 – notas 2).

 

 

Com a sumição de Marciano urdiu-se a eliminação de Sanches. José Antonio Garcia, aliado de Tonico Lista em Campos Novos Paulista, teria encomendado o assassinato do coronel campos-novense, tocaiado e morto aos 22 de fevereiro de 1912 (Jacques Sodré, obra manuscrita, ‘A morte do coronel Sanches de Figueiredo – Mandantes e envolvidos no Assassinato’, 1951: 12), sendo conhecidos os assassinos Brasiliano da Silveira Castro, foragido na Argentina, e João Antonio de Campos, preso na localidade de Pereiras (SP), este morto na cadeia antes de ir a julgamento (Justiça Pública: réu João Antonio de Campos e outro, Processo 010/1912 de 03/julho/1912, Platina – SP, Arquivos CEDAP/Assis, Referência III C12, Caixa 25/26).

O crime repercutiu em todo o Brasil e o governo federal exigiu providências do governo paulista, que então encaminhou para Campos Novos o alferes João Antonio de Oliveira, cognominado ‘Tenente Galinha’, que se achava comissionado no posto de ‘Chefe do Serviço de Captura da Polícia de São Paulo’.

—’Galinha’ era um famigerado caçador de homens procurados pela justiça ou cometedores de crimes. 

Nogueira Cobra refere-se à presença e objetivos do ‘Tenente Galinha’ na região, destacando, porém, que além da violência e sem qualquer simpatia granjeada, não apresentou nenhuma solução para o crime, e, sobre ele, ainda, pesou a suspeição pelo sumiço de 30 mil réis que Sanches guardava em sua casa, num lugar de costume, fruto da venda de terras, sendo improvável que na data de sua morte tivesse ele saído com tanto dinheiro na guaiaca (Cobra, op.cit, 1923: 233-235). 

Tonico Lista, à época delegado de polícia em exercício, pediu exoneração do cargo (O Município, semanário santa-cruzense, 27/08/1913: 1). Como autoridade policial teria vantagens em acobertamento dos crimes de seus jagunços, porém seria cobrado pelas autoridades estaduais em solucioná-los, portanto, exonerado, teria maior liberdade em tratar acordos e estratégias com os capangas.

O coronel santa-cruzense livrou-se logo das suspeições, afinal, de um homem como Sanches, que colecionara tantos inimigos, quaisquer que se visse prejudicado, ou a parentela, seria potencial mandante da execução, “(…) e há notícias de que muitos crimes tinham ligação com este assassinato, segundo relatório do Doutor Cobra. (…), entretanto não nos interessa averiguar tais fatos”. (Leoni, ‘Minha Terra – Assis’, 1979: 273-274).

A morte do capitão José Antonio de Moraes Peixe

O rico fazendeiro José Antonio de Moraes Peixe, ex-suplente de delegado, em 1913 quis rivalizar-se com Lista sendo tocaiado e morto (José Ricardo Rios, ‘Coronel Tonico Lista – O Perfil de uma Época’, 2004: 109-110).

Moraes Peixe era homem violento. Vinculado ao grupo político ‘sodrelista’, em 1902 assassinara, por motivo torpe e sob alegação de legítima defesa, um colono seu, português, colocando-se sob a proteção do delegado de polícia, dr. Fernando Eugenio Martins Ribeiro, o alter ego de Francisco Sodré (Correio do Sertão, semanário santa-cruzense, 06/09/1902).

Em 1913, o capitão Moraes Peixe adquirira de Tonico Lista uma gleba no bairro da Serrinha, a partir das divisas com a zona urbana santa-cruzense, a partir do valo divisório, quarenta metros adiante da atual rua Conselheiro Saraiva, e abaixo da estrada para Espírito Santo do Turvo, situada entre as hoje ruas Euclides da Cunha e Antonio Mardegan, arrematada por Lista em hasta pública do ausente engenheiro Henrique Kruzmann (Diário Oficial de [do Estado] de São Paulo – DOSP, 13/07/1909: 10).

A propriedade divisava, ainda, com parte dela extraída, pequeno chão que Lista repassara ao José Alves de Lara, que, posteriormente, seria desmembrado escriturado por quem adquirisse toda a gleba.

— Henrique Kruzman, engenheiro residia em Campinas e adquirira a propriedade do capitão Antonio Joaquim Gonçalves [da Silva], conforme consta no Cartório de Registro de Imóveis – SCR. Pardo, antigo Livro 3 F, de Transcrição das Transmissões, dele à fls. 111. Transcrição 1.102 de Livro 4, do ano de 1894 – nº 1.102, de 12 de janeiro de 1894. 

— Foram terras originárias da fazenda Santa Cruz, do pioneiro Manoel Francisco Soares. Às áreas urbana e suburbana da propriedade denominou-se ‘Chácara Peixe’. 

Moraes Peixe teria invadido parte das terras de Lara, sem se importar que o Lista não toleraria tal intromissão em cima de um amigo. Relatos de Rios dão conta que Peixe tinha uma amante, por nome Avelina, a quem costumava visitar algumas noites, e, numa delas, foi tocaiado e morto, ficando o episódio marcado pois um dos assassinos, ao chutar a cabeça da vítima, arrancou-lhe a peruca: o Peixe era careca (Rios, op.cit, 2004: 110). 

Oficialmente, e diferente do relato de Rios, o crime ocorreu na madrugada de 20 de setembro de 1913, quando o capitão Peixe, após assistir filme no Cinema São Luiz, dirigiu-se para a chácara, adiante da rua Conselheiro Saraiva, onde residia, quando emboscado e alvejado por tiros, com morte instantânea. Dona Emerenciana, esposa de Peixe, que se achava na residência e um sobrinho que se encontrava no Hotel Peixe – onde viria ser o Hotel Scazzola – parte onde hoje (2022) a farmácia Droga Raia, ouvindo as detonações se dirigiram para o local, desconfiados de assalto, “porque andavam mais ou menos prevenidos, após o roubo que ha bem pouco fizeram ao cap. Peixe.” (Cidade de Santa Cruz, semanário santa-cruzense, 21/09/1913: 2). 

O mandante do crime seria Lista, conforme documento expedido pelo judiciário santa-cruzense que:

— “(…) com a cumplicidade de seu cunhado Alfredo Antonio Gonçalves, vulgo Nenê Narciso, mandou assassinar ao fazendeiro José Antonio de Moraes Peixe, cujo inquerito está em andamento. Para afastar as suspeitas, Antonio Evangelista da Silva fez uma viagem a S. Paulo, deixando ordens criminosas, que foram fielmente executadas.” (O Combate, diário paulistano, 03/11/1921: 3 – expediente forense).

— Não confundir o citado Alfredo com parente homônimo (Cópia Digitalizada: Acervo dos Autores – CD: A/A).

Lista livrou-se das acusações na época, e posteriormente identificado Joaquim Alves de Lara como o assassino, por ordem do coronel (A Ordem, semanário santa-cruzense, 29/11/1921: 2).

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