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Especial Tonico Lista (parte V): “Um homem marcado para ser assassinado”

Histórico documentado sobre o mais icônico político mandador na comarca santa-cruzense-do-rio-pardo, o famanaz coronel Antonio Evangelista da Silva, alcunhado Tonico Lista, nome amado e odiado tanto que, ainda no ano de 2022, desperta paixões, causa polêmicas.

Tonico Lista, um homem marcado para ser assassinado

Quando Washington Luis eleito presidente [governador] do Estado de São Paulo e o dr. Francisco Cardoso Ribeiro nomeado secretário da Justiça e Segurança Pública, um jornal paulistano publicou a opinião de um missivista santa-cruzense-do-rio-pardo:

— “Agora, o antigo juiz expulso de Santa Cruz do Rio Pardo transformou-se em secretário (…) e como ódio velho não cansa, soou a hora da vingança.” (Correio da Manhã, 15/05/1922: 2).

1- A tríade assassina contra o Lista

Dentre os inimigos de Tonico Lista, o juiz de direito dr. Francisco Cardoso Ribeiro, onze anos depois de ser obrigado deixar, às pressas, a comarca de Santa Cruz, tornou-se o mais poderoso deles, ao assumir as Secretaria unificada da Justiça e Segurança Pública do Estado de São Paulo, no governo Washington Luiz, com poderes suficientes para o triunfo da desforra contra o outrora algoz.

—”Agora, o antigo juiz expulso de Santa Cruz do Rio Pardo transformou-se em secretário (…) e como ódio velho não cansa, soou a hora da vingança.” (Correio da Manhã, 15/05/1922: 2).

Cardoso Ribeiro, tão logo ‘feito’ secretário, buscou para Santa Cruz o judiciário e a segurança pública fortes, além de uma promotoria capaz, para formar a tríade de autoridades públicas: juiz, promotor e delegado, nomeadas com desígnio único em prender Lista e destituí-lo do poder político.

Primeiro cuidou-se na escolha de um juiz, típico ‘linha dura’, intolerante à política do mandonismo característico do coronelismo, que se colocava acima da lei e fazia de sua comarca o seu feudo político, como ‘prestigioso chefe’ que tudo podia e fazia acontecer.

A magistratura paulista não ignorava o acontecido ao juiz Cardoso Ribeiro, na comarca santa-cruzense, um ato bárbaro que atingira toda a classe, que lhe era solidária, até para medidas saneadoras, tanto, que diversos juízes, tidos intransigentes, se ofereceram oficialmente para assumir o lugar, a exemplos de ‘Eduardo Silveira da Mota, de Sarapuí; Alberto Pinto de Moraes, de Ubatuba; Vicente Mamede de Freitas Junior, de Pitangueiras; Arthur Mihich, de Cunha; e Junio Soares Caiuby, de Avaré’ (DOSP, 17/08/1920: 4976).

O Juiz

A escolha recaiu sobre Arthur Mihich conforme ‘Decreto de 18 de agosto de 1920 – Pasta da Justiça’ (DOSP, 20/08/1920: 5046), para ocupar vaga do juiz de direito, dr. José de Mesquita Barros, em licença para tratamento de saúde (DOSP, 05/02/1920: 786), com prorrogação e afinal aposentado como “inválido para o serviço público,” (DOSP, 30/07/1920: 4602), para, em seguida, advogar em São Pedro do Turvo e cuidar de seus outros interesses.

O Promotor

Para a promotoria pública, o governo nomeou o jovem Ricardo Gumbleton Daunt, ‘Decreto de 23 publicado a 25/08/1920: 1’, numa audaz aposta no jovem bacharel, turma de 1919, pela ‘Faculdade de Direito de São Paulo’, que atraíra atenções de juízes e professores durante a vida acadêmica, pela inteligência, brilhantismo e coragem, além de ideias avançadas e repulsivas ao coronelismo.

A considerar as esperanças em torno de seu nome, a atuação de Daunt como promotor em Santa Cruz, pela imaturidade e desejo em não decepcionar o seu empregador que lhe confiara ‘tarefas importantes’ foi um desastre, própria de um ‘cumpre-vontades’ do secretário Cardoso Ribeiro, sempre atencioso às instruções do juiz Arthur Mihich, e fortemente influenciado pelo advogado Ataliba Pereira Vianna, adversário de Lista (Correio Paulistano, 11/04/1922: 7, artigo assinado por Wald – Valdomiro de Pádua Fleury, mais adiante descrito).

— Decepcionado, Daunt deixou a comarca e removido para Itápolis, Decreto de 24, Justiça, e, pouco depois, exonerado pelo Decreto de 30/11, da Justiça (DOSP publicações de 25/07/1922: 4841 e 02/12/1922: 78770, respectivamente).

— Em 1934 Daunt viria se destacar no serviço público estadual, como diretor do Serviço de Identificação do Estado de São Paulo, órgão precursor da Polícia Científica, e um dos pioneiros da datiloscopia no Brasil que, em 1938, revolucionaria o então Instituto de Identificação Criminal do Estado de São Paulo, hoje atual Instituto de Identificação dr. Ricardo Gumbleton Daunt – IIRGD.

O Delegado

Para o cargo de delegado de polícia, o secretário Cardoso Ribeiro nomeou o já temível Coriolano de Araujo Góes Filho, pelo ‘Decreto de 19 e publicado aos 21/07/1920: 4413’, no lugar do dr. Alfredo Solano de Barros, o qual exonerado, a pedido, de acordo com o mesmo Decreto.

Coriolano em Santa Cruz se desgastou cedo, pouco mais de um ano a medir forças com o coronel Lista, e se viu obrigado deixar a comarca, removido para Jaboticabal – Decreto de 15 de setembro de 1921.

—Cinco anos depois, Coriolano iniciaria seu tempo na história da segurança pública brasileira, no governo federa, já a partir de 1926, destacando-se homem forte no governo Getúlio Vargas. Com a morte de Vargas recolheu-se à vida familiar, falecendo em São Paulo no dia 30 de novembro de 1967, tendo nascido em Salvador – Bahia aos 29 de janeiro de 1896.

Mancomunações políticas e jurídicas para suprimir Tonico Lista

Bom conhecedor de Tonico Lista, Cardoso Ribeiro entendia que o judiciário, a promotoria pública e a segurança não seriam suficientes para deter o rival, por isso, a meter-se na política local, unindo os desafetos do coronel na formação de um partido político:

—”Foi organizado nesta cidade o Partido Municipal, em opposição ao situacionismo local, mas filiado ao P.R.P. O directorio do novo partido ficou assim constituido: presidente, Arlindo Crescencio Piedade; vice-presidente, Cherubim Dias Chaves; secretario, dr. Ataliba Pereira Vianna: tesoureiro, Saul Ferreira e Sá: membros, dr. Pedro S[oares] Sampaio Doria, Albino Garcia, dr. Flavio Rodrigues, Arnaldo Ornellas de Siqueira, José Epiphanio de Souza, Pedro de Andrade, dr. Julio F [?] Leite, João Daveoti [João Dalmati] e Moyses Nelli .” (O Combate, edição de 17/03/1921: 1).

 Arlindo Crescencio [da] Piedade melhor esclareceria:

—”(…) que com a posse do dr. Washington Luís a presidência do Estado e conseqüente posse do dr. Cardoso Ribeiro na pasta da Justiça e Segurança Pública, o povo de Santa Cruz tomou o alvitre a organizar um partido político em opposição ao Coronel Antonio Evangelista da Silva, vulgo Tonico Lista, o que foi feito e a que deram o nome de Partido Municipal, sendo, então, o declarante convidado a assumir a presidencia do Directório.” (José Ricardo Rios, ‘Coronel Tonico Lista – O Perfil de uma Época’, 2004: 160-162)

Um missivista santa-cruzense, anônimo, não teve dúvidas:

—”O dr. Cardoso Ribeiro, no intuito de ‘depor’, agora, o sr. Antonio Evangelista da Silva usou desse ‘truc’ muito politico sertanejo, dando mão forte aos inimigos do sr. Antonio Evangelista da Silva e dahi a creação do partido ‘opposicionista’ local, capaz de escalar o poder.” (O Combate, 19/03/1921: 1).

Aos 14 de abril de 1921 o novel partido político em Santa Cruz fazia ressurgir o hebdomadário ‘A Ordem’, como órgão informativo oposicionista, cujo nome reaproveitado de homônimo suspenso uma década antes. Pouco depois, Benedicto Andrade e Francisco Bressane da Cunha fundam o semanário ‘O Trabuco’ e requerem do prefeito, coronel Antonio Evangelista da Silva, “admitil-os a assignarem o termo de responsabilidade de redactores responsaveis do jornal critico, humoristico e litterario”. Lista deferiu o pedido e autorizou o funcionamento aos 14 de junho de 1921.

O coronel Arlindo Crescencio Piedade, presidente do Partido Municipalista, era colaborador dos dois periódicos, conforme rememoração de 1921, pelo articulista Waldomiro de Pádua Fleury, que assina Wald:

—”(…) vive a inventar infamias contra o seu amigo protector e a publicar diatribes nos pasquins ‘Ordem’ e ‘Trabuco’, como testa de ferro, visto que, não sabendo escrever, tem apenas um serviço: distribuir os jornalecos atassalhadores da honra alheia e apontar aos beocios como elle uma infamia bem feita (…).” (Correio Paulistano, 11/04/1922: 7, Wald, “Panellinhas na justiça – Uma opposição de fancaria – Notas diversas”).

Arlindo Crescencio Piedade era visto, pelos adversários, como homem de caráter duvidoso, segundo Wald:

“Este (…), foi durante muitos annos commensal e amigo do coronel Antonio Evangelista a quem deve innumeros obséquios. Para não nos alongarmos, citamos apenas um: A protecção dispensada a Arlindo Piedade Filho…

Este, (toda Santa Cruz o sabe) foi mais que desordeiro: foi perverso. O coronel Antonio Evangelista, embora fugindo á obrigação como chefe, de dó do velho, protegeu o filho quando das aggressões a um pacto negociante e a um negro.

E, agora agradecidos, os dois Arlindos são adversarios e inimigos acirrados do seu benfeitor.” (Correio Paulistano, 22/03/1922:7).

Mas, o ‘Partido Municipalista’ encontrava apoio no juiz dr. Arthur Mihich, ou este seria, verdadeiramente, o líder político, segundo Avelino Taveiros – redator do semanário ‘A Cidade’:

— “Para agradar aos correligionários, cujos membros do directorio do partido, do qual é chefe – por detrás das cortinas – são seus compadres, então o estrabico juiz se agacha e tudo faz.” (O Estado de São Paulo, edição de 02/04/1922: 16, assinado por TAVOS – Avelino Taveiros, do semanário ‘A Cidade’, Santa Cruz do Rio Pardo, 30/03/1922).”

O juiz Mihich era fortemente vinculado ao advogado Ataliba Pereira Vianna, também ‘Curador-Geral de Órfãos e Ausentes da Comarca’, ambos cúmplices nos julgamentos de interesses, segundo denúncias da época, informadas por Wald: “Infelizmente, porém, todas essas miserias encontram apoio na pessoa do dr. Mihich, que, formando nas hostes da opposição, faz tudo quanto quer o meninote Ataliba Vianna (…).” (Correio Paulistano, 11/04/1922: 7).

O Wald também atacou o promotor público, Ricardo Gumbleton Daunt, como useiro e vezeiro recorrente aos aconselhamentos do advogado Vianna: “O promotor, então, esse é cousa sua. Como é um incompetente, consulta Ataliba Vianna a todo o momento, escrevendo, este, muitas vezes, o parecer que elle deve dar (…).” (Correio Paulistano, 11/04/1922: 7).

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