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Frei Edmilson: “Somos da Fé ou da Crença?”

Há diferença entre fé e crença? Talvez nós nunca fizemos esta pergunta e certamente é uma pergunta que nos deixa em estado de conflito e de dúvida.

Você consegue estabelecer a diferença entre fé e crença? 

É bom entender que fé e crença não são a mesma coisa. Pode haver fé sem crença, todavia não pode haver crença sem fé. A fé é anterior, maior, e contém a crença. A fé é um oceano, a crença um pequeno lago. A fé espalha, gera sensação de abismo e espanto, a crença se estabelece nas implicações práticas vinculadas às condutas de todos os dias.

Crença pertence ao conjunto das construções humanas, crença é algo que se vincula muito mais à cultura. Em geral são heranças, por isso mesmo têm a ver com elemento humano cultural, antropológico, é uma construção de descendência, ou seja, de geração após geração. Determinados dados foram oferecidos originalmente a um grupo humano que desenvolveu e sofisticou esse dado no curso das gerações. Na maioria das vezes a geração anterior à vigente vincula essa crença a um saudosismo, a conservação da crença é a certeza da preservação da identidade do grupo, da família. A crença tem um poder afetivo tão grande em nós porque ela se vincula ao papai, a mamãe, vovô, vovó, enfim, é a história da minha família, dos que me precederam, fizeram sacrifícios para eu estar aqui.

A crença às vezes tem um poder afetivo tão grande na pessoa que mesmo quando ela encontra a fé, ela tem dificuldade de deixar a crença, pois deixar a crença psicologicamente equivale a desvalorizar o papai, a mamãe, as heranças, as construções que chegaram até mim. Existe muita gente boa que teve crença a vida inteira, pessoas que se deram a tais crenças e que de repente sofrem um choque da fé. E o encontro da fé, segundo o Evangelho, segundo Jesus Cristo, já chega desconstruindo praticamente toda crença. Essa desconstrução que o Evangelho faz não é só ao paganismo, mas também para o próprio cristianismo que é feito de muitas crenças, de crenças que às vezes nós não sabemos nem de onde vieram.

Antes de continuar vou tentar dar alguns exemplos de crenças que ainda ouvimos nos nossos dias: “Batizar logo o bebê para deixar de ser pagão, levar na benzedeira, benzer sal e jogar pela casa, buscar alguém que interprete o sonho, na Sexta-feira Santa não se varre a casa, hoje não vou assistir à missa porque tem a reza do terço na casa do compadre. Podíamos ir longe com outros exemplos, e eu tenho certeza que muitos de vocês teriam um exemplo para acrescentar aos que eu acabo de citar.

Antes também de continuarmos é bom que se diga que outros poderiam intitular essa mensagem como: “fé e superstições”, “fé e devoção popular”; eu preferi chamar de fé e crenças.

A fé tem natureza completamente distinta da crença. A crença é mecânica, funcional, transferível, fruto do aprendizado e na sua maioria é compreensível. A fé é dom de Deus, fé é graça, fé é geração espontânea do Espírito Santo produzindo em mim o que eu mesmo por mim não posso gerar. Fé é convicção que não está disponível para qualquer mensurabilidade, estatística científica. 

Eu convido você a ler lá no novo testamento, na carta aos Hebreus, o capítulo onze, a partir do versículo dois porque o versículo um eu deixo aqui para você: “A fé é a certeza daquilo que ainda se espera, a demonstração de realidades que não se veem”. A fé é a certeza de coisas que eu mesmo muitas vezes não sei e nem sei quais são, mas eu posso afirmar com certeza que não são aquelas que a gente produz a partir dos nossos caprichos, com as nossas determinações mentais, as nossas agendas de interesses, superficiais e egoístas.

Quando eu digo que sou uma pessoa de fé, mas eu começo a determinar o que deve acontecer em minha vida, e se não acontece eu me revolto, na verdade eu sou uma pessoa que tenho fé na fé, e a fé na fé é um perigo porque ela tem um limite.

Fé na fé é o que os autores de livro de autoajuda nos ensinam, “eu posso”, “eu sou capaz”, “eu vou fazer”, “vai dar certo”, um verdadeiro halterofilismo da fé. Mas quando as coisas não saem como eu quero, onde está a minha fé?

Não foi jamais a fé na fé que fez com que Abraão subisse ao Monte Moriá para sacrificar o filho amado, Isaac. Também não foi a fé na fé que fez com que Maria acreditasse que ela de fato havia encontrado graça diante de Deus, e respondido: “Eis aqui a serva do Senhor”, mas sim a fé da certeza daquilo que ainda se espera, a demonstração de realidades que não se veem.

A fé é certeza daquilo que ainda se espera. Não nos livra das nossas quedas, dor e feridas, mas tenha certeza que a fé que vem de Deus e está em Deus, nasce em mim, é graça em mim e vai me qualificando para enfrentar as adversidades. A fé não precisa inventar nada, o que é preciso é colocar o pé na estrada, seguir e confiar: o senhor está comigo hoje, amanhã e depois de amanhã… Não importa se ontem eu caminhei mais do que hoje, o que importa é que eu caminhei. Afinal de contas, somos da fé ou da crença?

Um abraço,

Frei Edmilson.

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