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Padre João Domingos Figueira – II: vida ‘extra clerical’

  1. Fazendeiro escravagista

O padre João Domingos Figueira era um homem rico; em Cabo Verde-MG são mostrados alguns de seus escravos, peças caras e destinadas aos trabalhos rurais e domésticos, posteriormente citados em Santa Cruz do Rio Pardo, entre1860 a 1880. Batistina, sua escravizada, no ano de 1846 em Cabo Verde teve o filho Jeremias (Livro de Batismos, 1809/1859: 42), de pronto lançado escravo, e a acompanhou na vinda para o Sertão do Pardo santa-cruzense, onde se casaria com uma jovem do mesmo plantel.

O padre chegou a Santa Cruz do Rio Pardo em 1860/1861 para cuidar de sua fazenda, adquirida de Manoel Francisco Soares; com ele veio toda sua escravaria. Quando o padre Figueira foi paroquiar em Caconde – SP, em 1862 a 1864, fez-se acompanhado de parte de seus cativos que lá seriam empregados como mão-de-obra alugada para os interessados.

— “Convidarão-me para vir ao lugar e fazer meus contratos, estive hum mez [ilegível]-me a que fizesse minha mudança, propuz condições acceitarão, e um lugar onde empregasse os cativos, tudo foi franqueado” (ACMSP, Documentos Diversos para Santa Cruz do Rio Pardo).

O padre retornou a Santa Cruz do Rio Pardo em 1864, conforme os diversos assentos eclesiais.

Sua fazenda em Santa Cruz, conhecida como ‘Fazenda do Padre’, era uma das melhores na região, situada às duas margens do rio Pardo, confinada a partir do Salto da Boa Vista, onde ainda [2020] ruínas da Usina Velha [hidroelétrica], com o ribeirão Grande, hoje divisa territorial entre os municípios Santa Cruz do Rio Pardo e Ipaussu, e, ainda, respeitadas as divisas de fundo e testada (DOSP, 19/03/1898: 23.174). Pelo caminho da fazenda, a passagem pelo Pardo, como a primeira ponte para adiante de Santa Cruz em direção às povoações: Rio Novo [Avaré], São Sebastião do Tijuco Preto [Piraju], Três Ranchos [Cerqueira Cesar], e outras.

 

 

 

Nomeação do padre João Domingos Figueira – 1º Vigário de Santa Cruz do Rio Pardo – Doc. ALESP

 

  1. Dos herdeiros legatários

Os herdeiros do padre João Domingos Figueira, ambos os sexos, são mencionados em edital público no ano de 1896 (DOSP, 19/03/1898: 23.174):

-Benvinda Carolina do Espírito Santo, nascida entre 1846/1848, casada com Manoel Gomes Nogueira, residente em Caconde – SP.

-João Bonifácio Figueira, nascido por volta de 1848/1850, casado com Maria das Dores de São José [família Botelho], residente em Santa Cruz do Rio Pardo.

-Mariana Rosa do Amor Divino, nos primeiros anos da década de 1850, casada com Luiz Antonio Rodrigues, residente em Santa Cruz do Rio Pardo.

-Maria Innocencia da Conceição, nascida em meado da década de 1850 casada com José Joaquim Gomes, residente em Santa Cruz do Rio Pardo.

-José Chrisante [Chrisostomo] Figueira, nascido no final dos anos 1850, casado com Umbelina Rosa de Jesus, no batizado da filha Virgilina, aos 27 de março de 1878 (SCR.Pardo, Livro de Batismos 1872/1879: 89-90); consorciado em segunda núpcias com Amélia Maria de Lima (ACMSP – SCR.Pardo, Matrimônio Livro 1893/1900: 66), residente em Santa Cruz do Rio Pardo. Adotou o nome José Baptista Figueira, após a morte do padre.

-Antonio Emilio Rodrigues, nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo no ano de 1862, viúvo de Maria da Conceição casou-se em segunda núpcias com Gabriela Sabina de Jesus, (SCR.Pardo, Livro de Matrimônios 1893-1900: 5), residente em Santa Cruz do Rio Pardo, adotando o nome de Antonio Baptista Figueira, após o óbito do padre.

-Rozalia de Tal, lembrada, por antigas memórias, como aquela que convivera maritalmente com o padre nos últimos de vida dele, sem descendentes conhecidos. 

Certa ‘Maria Bernardina’, residente no ‘Bairro [rural] dos Campanhas’, teve em seu registro de óbito, de 02 de setembro de 1889, a identificação dada pelo marido, José Antunes Vieira, ser ela “filha natural do finado Padre João Domingos Figueira” (Cartório de Registro Civil – SCR. Pardo, Livro C-1 nº 122: 41), sem constar o nome da mãe, porém, assento eclesial de óbito, de 02 dos mesmos mês e ano, consta ‘filha de pais incógnitos’ (Livro 1883/1897: 35), e, exceto nas vagas lembranças da família ‘Pereira Lima ou Pereira de Lima’, nenhum documento pode comprova-la filha do padre, nem foi ela arrolada herdeira legatária.

—Sobre a Maria Bernardina, em outubro de 2020 localizado o documento de seu batismo na localidade de São João de São Domingos, ocorrido aos 15 de outubro de 1861, idade de vinte dias, filha de Maria Neves de Jesus, pai ignorado, sendo padrinhos José Pereira de Lima e Anna Bernardina de Jesus (SCR.Pardo, Batismos 1859/1879: 89), a comprovar os antigos relatos dos Pereira Lima. Falecida em 1889, sem filhos, Maria Bernardina não constou herdeira legatária do padre na publicação em citado Diário Oficial [do Estado] de São Paulo, edição de 19/03/1898: 23.174.

  1. As mulheres mães dos herdeiros legatários do padre João Domingos Figueira

À exceção do nascimento de Antonio Emilio Rodrigues e a identificação de sua mãe Batistina, não foram localizados outros registros diretos, ano referência 2020, dos demais assentos eclesiais de batismos e casamentos dos herdeiros legatários do padre João Domingos Figueira.

À igual maneira, não revelado nenhum nome de mãe ou mães dos elencados herdeiros do padre; nem qualquer registro cartorial de óbito deles consta o nome da mãe, sempre desconhecido ou ignorado, inclusive com a incerteza dos lugares de nascimentos. Mesmo nos lançamentos cartoriais dos filhos nascidos de legatários do padre, ainda que de um segundo matrimônio, são ignorados os avós – padre João Domingos Figueira com quem, conforme segue o exemplo tomado aleatoriamente:

—José Baptista, filho de Antonio Baptista [ou Emilio] Figueira e Gabriella Joaquina [ou Sabina] de Jesus, nascido aos 05 de fevereiro de 1894 (assento eclesial) registrado civilmente aos 22/10/1928, traz os avós maternos, porém, ignorados os paternos (Cartório de Registro Civil – SCR. Pardo – SP, Nascimentos, Livro A-32 fls. 9 nº 628 – 05/02/1894 registrado em 22/10/1928).

Ainda nos anos de 1970 especulavam-se sobre os herdeiros do padre Figueira em Santa Cruz do Rio Pardo, não havendo dúvidas que tais eram seus filhos e filhas, aliás, o mais famoso deles, João Bonifácio Figueira, e apenas ele, após a morte do padre identificou-se publicamente como seu filho (Qualificação Eleitoral de 1880 e Alistamento Geral de Eleitores Federais de 1902, ambos para Santa Cruz do Rio Pardo).

Nestes considerandos, o padre João Domingos Figueira era religioso por formação clerical, declarado solteiro, comprovadamente fazendeiro e escravagista, apontado pai biológico de filhos e filhas nascidos de mãe ou mães ignoradas, e, aos herdeiros identificou-os nominalmente legatários. 

Se conhecidos os nomes dos possíveis descendentes do padre, apenas Batistina foi citada mãe de um deles, assim como desconhecidos os lugares de nascimentos e casamentos dos filhos, anteriores à sua vinda para Santa Cruz do Rio Pardo. A única certeza encontrada foi a intenção deliberada, por parte daquele que detinha o poder sobre os assentos eclesiais, ocultar os registros dos filhos e das mães, que poderiam tudo esclarecer, com isto perdidos muitos assentos eclesiais em Cabo Verde nos tempos que sabidamente teriam nascido alguns dos filhos do padre Figueira, ausências atestadas pelo reverendo padre Paulo José Gomes Marques da Cunha, conforme o seguinte exemplo aleatório:

— No anno de mil e oito centos e quarenta e quatro, pelo Mtº. Rvdº Vigario Collado João Domingos Figueira, nesta Matriz de Cabo Verde, foi baptizado solennemente, o innocente Antonio filho legitimo de João da Costa Ferreira e de Maria Eufrazia de Jesus, de quem foram Padrinhos João de Souza Mendonça e sua mulher Theodora.

Revistei o Livro oitavo, que governando aquella epoca, para delle extrair o theor de seo assento; mas não o encontrei.

Porem informando-me de pessoas, que suppuz me falarão com verdade sobre o contheudo não duvidei fazer este assento para em todo constar. Cabo Verde 22 de abril de 1864.

O Padre Paulo José Gomes Marques da Cunha.

(Cabo Verde, Livro de Batismos 1809/1859: 70)

No entanto, os autores, através de certificação de acontecimentos pelo critério da coerência, com alta probabilidade de serem verdadeiros, descobriu-se a mãe de três dos primeiros filhos do padre, e, num acontecimento oficial fortuito, de 1862, chegou-se à progenitora dos demais descendentes. Os nomes de ambas as mulheres são revelados, com todo o respeito que elas merecem, resgatando-lhes a memória e a maternidade ocultadas ao longo de cento e cinquenta ou mais anos.

 

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